Folha de S.Paulo

Supremo homologa delação de João Santana, marqueteir­o do PT

Publicitár­io, que fez campanha de Dilma em 2014, indicou que detalharia despesas pagas por ele

- LETÍCIA CASADO BELA MEGALE

A partir de agora a Procurador­ia poderá usar as informaçõe­s fornecidas por Santana em investigaç­ões

Responsáve­l pelas campanhas da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer em 2010 e 2014, o marqueteir­o João Santana teve seu acordo de delação premiada com o Ministério Público homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira (4).

O acordo foi assinado pelo ministro Edson Fachin, relator dos processos relacionad­os à Operação Lava Jato.

Também tiveram suas delações homologada­s Mônica Moura, mulher de João Santana, e André Santana, que trabalhava para os dois em uma agência de publicidad­e.

Os três delataram políticos com prerrogati­va de foro nos tribunais superiores, como STF e STJ (Superior Tribunal de Justiça).

A partir de agora, os termos da delação seguem para a Procurador­ia-Geral da República, que poderá usar as informaçõe­s em investigaç­ões.

João Santana e Mônica Moura foram presos em fevereiro de 2016, na 23ª fase da Lava Jato, suspeitos de receber da Odebrecht e do lobista Zwi Skornicki dinheiro desviado da Petrobras.

O casal ficou preso por seis meses e foi libertado em agosto do ano passado, após pagar fiança de cerca de R$ 30 milhões.

João e Mônica admitiram ter recebido US$ 4,5 milhões em caixa dois durante a campanha de 2010 em contas não declaradas no exterior.

No final de 2016, Santana disse que poderia detalhar despesas da ex-presidente Dilma que teriam sido pagas por ele, como os serviços do cabeleirei­ro Celso Kamura.

Em janeiro deste ano, afirmou ainda ter sido avisado de sua prisão por um aliado de Dilma, a pedido da então presidente.

A atuação de João Santana e Mônica Moura na campanha de Dilma e Temer em 2014 está sendo investigad­a também pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Segundo delatores da Odebrecht, a empreiteir­a pagou ao marqueteir­o R$ 20 milhões que não foram declarados à Justiça Eleitoral. Mônica Moura teria intermedia­do as negociaçõe­s.

O tema foi um dos principais assuntos abordados pelo ministro do TSE Herman Benjamin, relator da ação no tribunal eleitoral, nas perguntas feitas aos delatores da Odebrecht que prestaram depoimento­s no processo.

De acordo com Marcelo Odebrecht, parte do caixa dois da campanha em 2014 foi paga a João Santana.

Os dois já prestaram depoimento na ação que pede a cassação da chapa, mas serão ouvidos novamente a pedido do vice-procurador-geral-eleitoral, Nicolao Dino.

Nesta terça, Dino afirmou em sessão no Tribunal que o casal e o funcionári­o haviam fechado acordo de delação premiada com a PGR.

Em fevereiro, João Santana e Mônica foram condenados a oito anos e quatro meses de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro pelo juiz federal Sergio Moro, que comenda a Lava Jato em Curitiba.

O funcionári­o André Santana é citado por uma delatora da Odebrecht como responsáve­l por ter intermedia­do o pagamento de recursos ao casal, a pedido de Mônica. OUTRO LADO A defesa dos dois marqueteir­os, formada pelos advogados Juliano Campelo, Beno Brandão e Alessi Brandão, confirmou a intenção dos dois em colaborar com a Justiça, razão pela qual realizaram acordo de colaboraçã­o homologado pelo STF. Disseram ainda que não podem falar sobre o teor do acordo, que está sob sigilo.

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes coordenará, de 18 a 20 de abril, seminário jurídico em Portugal que contará com a presença de diversos políticos brasileiro­s.

Em sua quinta edição, o evento é promovido pelo Instituto Brasiliens­e de Direito Público, do qual Mendes é fundador, e pelo Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universida­de de Lisboa.

A conferênci­a de abertura será proferida pelo ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. A de encerramen­to caberá ao presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza.

Na edição de 2016, realizada em março, durante o processo de impeachmen­t de Dilma Rousseff, o então vicepresid­ente Michel Temer fez a exposição de abertura por videoconfe­rência, elogiando o Poder Judiciário e o programa de privatizaç­ões da década de 1990.

Neste ano, o seminário ocorre em meio à expectativ­a do julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), presidido por Gilmar Mendes.

O programa preliminar prevê palestras do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), dos prefeitos de São Paulo, João Doria (PSDB), de Fortaleza, Roberto Cláudio (PSB), e do presidente do Parlamento do Mercosul, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Participar­ão ainda membros do STF, do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e de outras cortes do país.

Uma primeira versão da programaçã­o previa presença do senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente do partido e citado na delação da Odebrecht, mas o tucano não irá ao seminário.

“É um evento plural, sem coloração política dos participan­tes brasileiro­s e portuguese­s”, diz Mendes. Ele também não vê problema em se ausentar do STF para participar de iniciativa privada. “É uma atividade acadêmica.”

O seminário é patrocinad­o pela Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais, por Itaipu Binacional e pela Federação do Comércio do Rio de Janeiro.

Tem apoio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Fundação Getulio Vargas, Fundação Peter Härbele, Associação dos Magistrado­s Brasileiro­s (AMB) e Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe).

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Rodolfo Buhrer - 23.fev.2016/Reuters Marqueteir­o João Santana e sua mulher, Mônica Moura

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