Corinthians vende CIDs do Itaquerão para torcedores
Com dificuldades para pagar estádio, clube quer acelerar venda de títulos de R$ 65 mil da prefeitura
FINANÇAS
O Corinthians quer a ajuda de torcedores para pagar a dívida contraída para a construção do seu estádio em Itaquera, que custará mais de R$ 1 bilhão ao todo. O clube fará campanha para que eles comprem CIDs (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento) emitidos pela Prefeitura de São Paulo entre 2013 e 2015.
Esses títulos podem ser utilizados pelos compradores para o pagamento de impostos municipais, como IPTU e ISS. Cada um dos papéis tem um valor de R$ 65 mil, o que representa uma dificuldade na venda para pessoa física ou para proprietários de pequenas empresas.
Quem adquirir os títulos deve receber um desconto que pode chegar até a 10%. Ao comprar um papel de R$ 65 mil, por exemplo, pode pagar R$ 59 mil para quitar suas dívidas com a prefeitura. O valor do deságio é negociado entre os detentores dos CIDs (representados pelo fundo) e o comprador e pode variar.
Como a Arena Corinthians foi sede da abertura da Copa de 2014, o clube recebeu incentivo por meio desses papéis, que podem ser vendidos no mercado para gerar receita líquida para pagar as dívidas referentes ao estádio.
Até agora, foram vendidos apenas R$ 48 milhões de R$ 470 milhões (em valores reajustados pela inflação; inicialmente, o valor era de R$ 420 milhões). Ao todo, R$ 110 milhões estão comprometidos para empresas que manifestaram intenção de compra mas só vão realizá-la quando chegarem as cobranças de impostos.
O grande obstáculo para comercialização dos CIDs foi uma ação judicial do Ministério Público de São Paulo contra a prefeitura por improbidade administrativa.
A primeira decisão foi favorável ao clube, mas a ação gerou uma desconfiança no mercado sobre a validade dos papéis —há receio, hoje menor, de que eles percam valor caso haja algum revés na Justiça.
A Odebrecht, construtora do estádio, adquiriu mais de R$ 28 milhões em CIDs ao longo dos últimos anos.
A ideia é que campanha para a venda dos CIDs seja feita internamente no Corinthians, visando sócios e conselheiros, em caráter de teste. Caso o resultado seja positivo, a divulgação será feita de maneira mais abrangente para todos os torcedores.
“Qualquer contribuinte de ISS ou IPTU na cidade de São Paulo, seja pessoa física ou jurídica, pode utilizar os CIDs para quitar seus impostos, desde que o valor de seu recolhimento seja superior a R$ 65 mil, que é o valor atualizado de cada título”, diz a assessoria de imprensa da Arena Corinthians.
Ex-diretor de futebol do Corinthians, o empresário Sergio Janikian foi o primeiro a comprar CIDs como pessoa física. Adquiriu R$ 130 mil em papéis, e os utilizou para quitar impostos. Ele tem feito campanha no clube para que conselheiros, sócios e outros torcedores comprem os títulos para diminuir a dívida do clube.
“A minha intenção é ajudar a viabilizar o pagamento. De nada adianta apenas criticar ou reclamar. O que precisa ser feito é ajudar como pudermos o Corinthians a sair dessa e melhorar a crítica situação financeira em que o clube se encontra”, diz Janikian.
A expectativa do Corinthians é de que os R$ 470 milhões em CIDs sejam comercializados em até três anos. Procurada pela Folha, a Prefeitura de São Paulo informou que não há qualquer impedimento legal para que os CIDs sejam vendidos para pessoa física. CONTAS O projeto de acelerar a venda dos CIDs está relacionado com a crise financeira pela qual passa o clube. A construção do estádio comprometeu as contas gravemente.
O Corinthians não pode contar com receitas de bilheteria, que vão para o fundo que administra o pagamento da arena. O clube não paga à Caixa as parcelas de R$ 5,7 mi referentes ao financiamento das obras da arena desde abril de 2016, e negocia com o banco mudanças no contrato, como o prolongamento do prazo de pagamento para 2036 e a redução dos valores das mensalidades pela metade. O QUE SÃO CIDS? São Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento que foram concedidos pela Prefeitura ao fundo de investimento criado por Corinthians e Odebrecht. Funcionam como isenção de impostos