Fiscal apontado pela polícia como chefe de esquema negocia delação
Preso pela Operação Carne Fraca em março, Daniel Gonçalves decide colaborar com procuradores
Atingida pela investigação, família aumenta pressão para que fiscal faça acordo com as autoridades
O fiscal agropecuário Daniel Gonçalves Filho, preso há mais de 20 dias pela Operação Carne Fraca e apontado como líder de um esquema de corrupção na fiscalização de frigoríficos, decidiu fazer acordo de delação com o Ministério Público Federal.
No fim da semana passada, Gonçalves Filho já havia sido transferido do presídio da região metropolitana de Curitiba em que estava para a sede da Polícia Federal, onde ficam presos que negociam ou já fecharam acordos de colaboração com as autoridades.
Se houver acordo, ele será o primeiro investigado a fechar delação após a deflagração da primeira fase da Carne Fraca, em 17 de março.
Pessoas informadas sobre as investigações têm a expectativa de que o fiscal faça revelações sobre políticos do PMDB vinculados ao agronegócio e empresários do ramo. Ainda não houve reuniões entre ele e os procuradores.
O advogado Jorge Vicente Silva, que assumiu a defesa de Gonçalves Filho a partir desta terça, afirmou não ter informações sobre a negociação de delação. “Não tenho essa situação ainda. Nem me reuni direito com Daniel e a família dele”, disse à Folha.
Ronaldo Sousa Troncha, ex-assessor do deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR), disse em depoimento à PF que o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, também do PMDB do Paraná, fez parte do grupo de deputados que participaram da indicação de Gonçalves Filho para o posto de superintendente do Ministério da Agricultura no Estado.
Gonçalves Filho foi nomeado em 2007 e exonerado em 2016. Na época da nomeação, Serraglio era deputado federal. A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) disse que, no período em que comandou o Ministério da Agricultura (20152016), foi pressionada por dois deputados do PMDB para não demitir o fiscal. Depois, disse que os deputados que a pressionaram foram Serraglio e Souza.
A assessoria de Serraglio afirmou que ele não fez pressões sobre a senadora em favor do fiscal nem participou da indicação de Gonçalves Filho. O ministro da Justiça atribuiu a indicação do fiscal ao deputado Moacir Michelletto (PMDB-PR), morto em 2012. FAMÍLIA Desde a deflagração da operação, Gonçalves Filho vem sendo pressionado pela família para fechar acordo de delação, segundo pessoas próximas a ele. O motivo é o envolvimento de sua mulher e dos filhos nas fraudes e ilicitudes investigadas pela PF.
A mulher dele, Alice Mitico Gonçalves, e o filho Rafael Nojiri Gonçalves foram presos temporariamente na primeira fase da Carne Fraca. A filha Laís Gonçalves foi levada coercitivamente para depor.
Na época da prisão, seu advogado disse que era “um exagero” apontar o fiscal como chefe de uma organização criminosa e que a investigação tinha origem em acusações de um antigo desafeto.