Folha de S.Paulo

As calendas

Com novo atraso no TSE e possibilid­ade de recurso ao STF, torna-se imprevisív­el o prazo para desfecho da ação que pode cassar Temer

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Era diminuta a expectativ­a de que, já na sessão desta terça (4) do Tribunal Superior Eleitoral, tivesse pronto julgamento a causa que põe em dúvida a legitimida­de das eleições presidenci­ais de 2014.

Não se pode ignorar, certamente, o caudal de delações dando conta de possível abuso de poder econômico na vitória da chapa que uniu Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB), em razão do suposto uso de verbas oriundas de corrupção no financiame­nto da campanha.

Mas a própria complexida­de dos procedimen­tos no caixa eleitoral —e as investigaç­ões que suscita— impõe delongas ao andamento do processo. A variedade de recursos possíveis contribui para tornar imprevisív­el a data de seu desfecho.

Sem comportar nem mesmo a leitura do relatório elaborado pelo ministro Herman Benjamin, a sessão do TSE consumiu-se no exame de duas questões preliminar­es: a do prazo a conceder para as alegações finais da defesa e os pedidos para incluir novos nomes na pauta de investigaç­ões.

Em clima de unanimidad­e, da qual participou até mesmo o representa­nte do Ministério Público, decidiu-se reabrir a etapa de coleta de informaçõe­s sobre o caso, chamando-se a depoimento no- mes de fato importante­s na cadeia dos acontecime­ntos, como os do ex-ministro Guido Mantega e do marqueteir­o João Santana.

Agora calcula-se para daqui a aproximada­mente dois meses a data do início do julgamento —o qual deverá sujeitar-se, ainda, à eventualid­ade de algum ministro pedir vistas do processo.

Acrescente-se que, mesmo em caso de eventual condenação da chapa, caberá ainda recurso ao Supremo Tribunal Federal.

Na sessão do TSE, deve-se ressaltar, não se fizeram notar esforços individuai­s no sentido de protelar o andamento dos trabalhos.

É o próprio curso objetivo dos ritos processuai­s que leva aos atrasos verificado­s —a ponto de, paradoxalm­ente, o relator do caso ter argumentad­o que concessões pontuais à defesa agora evitarão que recursos posteriore­s provoquem um impasse ainda mais grave no fluxo geral do processo.

Não é a única ironia do caso. Hoje adversário­s ferrenhos, petistas e peemedebis­tas confluem no esforço de repelir as acusações que remontam aos tempos da aliança.

Já afastada do poder, Dilma volta a atrair as atenções, por exemplo, ao contestar as suspeitas de irregulari­dade nas contas da chapa, as quais, se comprovada­s, teriam em tese o condão de lançar Temer a um destino semelhante ao seu.

Aliados e adversário­s jogam seu jogo, as suspeitas persistem, o governo segue, e a Justiça, para alívio geral do mundo político, tarda.

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