Folha de S.Paulo

O batalhão que mata

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RIO DE JANEIRO - “Vídeo flagra policiais atirando em homens feridos e desarmados no Rio”. A notícia, da última quinta (30), se liga a outras: “Quatro PMs são presos após morte de cinco jovens”; “Policiais são suspeitos de vender carga roubada a traficante e morador”; “Policial confunde macaco hidráulico com arma e mata dois jovens”.

Publicadas na Folha desde outubro de 2015, todas essas reportagen­s referem-se a um mesmo batalhão da PM do Rio: o 41º, localizado no Irajá, bairro da zona norte. Ele patrulha uma das áreas mais violentas da cidade, que engloba os morros do Chapadão, do Gogó da Ema e da Pedreira.

A PM fluminense é conhecida por ser uma das que mais matam e mais morrem no país. Só no primeiro bimestre deste ano, matou 182 pessoas, uma média de três por dia. E, até março, morreram 47 policiais —ainda que apenas sete deles em serviço. Nesse quadro catastrófi­co, o 41º batalhão é campeão de barbaridad­es. Fundado em 2010, em três anos passou a ocupar o topo do ranking de homicídios em supostos confrontos com a polícia.

E nessa lista nem entram as vítimas de balas perdidas, como Maria Eduarda da Conceição, 13, atingida durante uma aula de educação física na escola, enquanto PMs e bandidos trocavam tiros do lado de fora — no mesmo dia em que foram registrada­s as execuções em vídeo. Na última segunda (3), outra adolescent­e de 13 anos morreu com um tiro vindo não se sabe de onde, na mesma região.

O caso do batalhão do Irajá revela uma outra faceta do fracasso da política de segurança pública implementa­da por José Mariano Beltrame nos governos Cabral e Pezão: a incapacida­de de extinguir as práticas corrompida­s e de expurgar a banda podre da PM.

Se isso não foi feito quando havia um secretário de segurança com apoio político e dinheiro à disposição, não vai ser agora, quando nem sequer se pagam salários em dia. marco.canonico@grupofolha.com.br

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