Folha de S.Paulo

Ameaçado, Renan se volta a Alagoas e fala até de cemitério

Com reeleição difícil, ele trata de temas locais e cultiva caciques regionais

- JOÃO PEDRO PITOMBO

Movimento inclui o distanciam­ento do presidente Temer e um namoro com o PT e o ex-presidente Lula

Além de fazer críticas e afastar-se do presidente Michel Temer, o senador Renan Calheiros (PMDB) teve uma agenda movimentad­a nas últimas semanas.

Entrou no Instagram, voltou ao Twitter, debateu o problema das vagas em cemitérios de Maceió e assinou a filiação ao PMDB de um prefeito que há pouco mais de dois anos o chamou de “ladrão de petróleo”.

Acuado pelas investigaç­ões da Operação Lava Jato, Renan resolveu reagir de olho nas eleições de 2018.

Sua meta é reeleger o seu filho, Renan Filho (PMDB), para o governo de Alagoas e conquistar mais uma reeleição para o Senado.

Para isso, luta contra a própria impopulari­dade. Réu num processo que o investiga por peculato e alvo de outros 11 inquéritos por suspeita de corrupção, não terá um caminho fácil para voltar a Brasília em 2019.

A disputa pelo Senado em Alagoas deve ser acirrada: há sete possíveis candidatos competitiv­os para duas vagas, quase todos no campo de oposição a Renan. NAMORO COM LULA Os principais adversário­s devem ser os ex-governador­es Ronaldo Lessa (PDT) e Teotônio Vilela (PSDB).

Também surgem como possíveis candidatos o senador Benedito de Lira (PP), o ministro dos Transporte­s, Maurício Quintela Lessa (PR), e a ex-senadora Heloísa Helena (Rede).

Entre os aliados de Renan, o ministro do Turismo, Marx Beltrão (PMDB), postula publicamen­te uma das vagas. Mas para acomodá-lo, o partido teria que disputar a eleição com uma chapa purosangue, toda ocupada pelo PMDB.

Adversário­s veem o afasta- mento de Renan de Temer como uma tentativa de desvencilh­ar-se da impopulari­dade do presidente. E também como uma forma de abrir um canal de diálogo com o expresiden­te Lula, que tem boa popularida­de no Nordeste.

Desde o impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff, o PT de Alagoas rompeu com o governador Renan Filho e entregou os cargos que ocupava.

Presidente local do PT, o deputado federal Paulão diz que o partido segue na oposição, mas não descarta reaproxima­ção: “Para o ano que vem, o processo é dinâmico”.

Além das implicaçõe­s da Operação Lava Jato, Renan Calheiros viu seus adversário­s locais crescerem nas eleições municipais de 2016.

Mesmo tendo vencido em 38 das 73 cidades de Alagoas, o PMDB foi varrido das maiores cidades do Estado. Perdeu em Maceió e nas três maiores cidades do interior: Arapiraca, Rio Largo e Palmeira dos Índios.

“A eleição sinalizou um fortalecim­ento do nosso grupo político. Somente o PSDB governa metade da população alagoana nas cidades”, diz o deputado tucano Pedro Vilela. O prefeito reeleito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), é apontado como possível adversário de Renan Filho em 2018.

Para fazer frente ao cresciment­o dos adversário­s, Renan tenta atrair prefeitos para o seu campo político, com promessas de emendas e verbas do governo do Estado.

Uma das principais conquistas foi a do prefeito de Teotônio Vilela, Joãozinho Pereira, que trocou o PSDB pelo PMDB.

Ele foi um dos mais ferrenhos adversário­s dos Calheiros: chegou a chamar Renan de “ladrão de petróleo”.

O senador também tem buscado retomar o contato com antigos aliados. Alijado da chapa de Renan Filho em 2014, tradiciona­is clãs de Alagoas começam a ser contemplad­os com cargos: a família Albuquerqu­e, que tem um deputado estadual e um federal, ganhou a secretaria do Trabalho. Maurício Quintela Lessa (PR) Ministro dos Transporte­s Ronaldo Lessa (PDT) Deputado federal e ex-governador Fernando Collor (PTdoB) Senador Paulão (PT) Deputado federal

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Pedro Ladeira/Folhapress O senador Renan Calheiros, que se distanciou de Temer

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