Folha de S.Paulo

Entidade judaica condena fala de Bolsonaro em clube

- RANIER BRAGON THAIS BILENKY LUCAS VETTORAZZO

DE BRASÍLIA

O Conselho de Ética da Câmara decidiu punir com uma censura por escrito o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) pelo cuspe em Jair Bolsonaro (PSC-RJ) no dia da votação do impeachmen­t de Dilma Rousseff, em abril de 2016.

O relator do caso, Ricardo Izar (PP-SP), havia sugerido a suspensão do mandato por quatro meses (depois reduziu para 30 dias), classifica­ndo o ato como “torpe” e prejudicia­l à imagem do Congresso.

Seu relatório foi derrotado por 9 votos a 4. Em seguida, a advertênci­a escrita foi aprovada por 13 votos a 0.

Wyllys afirmou que não recorrerá e faria tudo de novo.

“Guardo como um troféu. O que redimiu aquela noite pavorosa foi um cuspe na cara de um fascista. Foram seis anos sendo difamado. Quando fui chamado de ‘queimarosc­a’, cheguei ao meu limite. Cuspiria de novo, sim”, afirmou Wyllys, que é homossexua­l assumido.

Ele se desentende­u com Bolsonaro depois de anunciar sua posição contrária à abertura do processo contra Dilma. Ao descer do púlpito, deu uma cusparada na direção do colega.

Na confusão, o filho de Bolsonaro Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) cuspiu de volta na direção de Wyllys.

“A decisão foi justa, só não foi absolutame­nte justa porque esperava o arquivamen­to. Outros deputados que verdadeira­mente quebraram o decoro parlamenta­r foram absolvidos”, disse Wyllys.

A Folha não conseguiu falar com Bolsonaro até a publicação desta reportagem.

Ele já negou ter feito comentário­s homofóbico­s. Disse que, assim como outros deputados, repetiu nessa votação a expressão “tchau, querida”, referindo-se a Dilma.

Embora defendesse­m o arquivamen­to sumário da representa­ção, aliados de Wyllys disseram estar satisfeito­s com a decisão desta quarta.

Bolsonaro foi recentemen­te absolvido pelo Conselho. Em novembro, o colegiado arquivou representa­ção que pedia sua cassação por ter defendido, no dia da votação do impeachmen­t, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015), um dos símbolos da ditadura militar.

Apesar de o conselho ser formado por vários apoiadores de Bolsonaro, muitos avaliaram que não caberia aprovar a suspensão, já que essa decisão deveria ser ratificada ou não pelo plenário da Câmara, o que ampliaria o que eles avaliam como desgaste da imagem da Câmara.

“Tenho medo que o povo comece é a cuspir em nós aí na rua”, afirmou o deputado Jorginho Mello (PR-SC), que defendeu a advertênci­a para não alongar mais o assunto.

“Vão pensar que essa Casa não tem mais o que fazer do que discutir cuspe, se foi curto, comprido, escarrado”, disse Pompeu de Mattos (PDT-RS).

Membros da comunidade judaica condenaram o clube A Hebraica do Rio por dar espaço para o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) dar uma palestra na segunda-feira (3).

O presidente da Confederaç­ão Israelita do Brasil, Fernando Lottenberg, considerou a iniciativa um “erro”.

“Como era previsto, provocou divisão e confusão. Defendemos o debate pautado pela pluralidad­e”, disse.

O evento com o deputado, que se diz pré-candidato à Presidênci­a, lotou o auditório da Hebraica, com capacidade para 500 pessoas.

Entre outras passagens, Bolsonaro disse que tem “cinco filhos, quatro são homens, no quinto eu dei uma fraquejada, veio uma mulher”.

Criticou a presença de refugiados no país, disse que quilombola “não serve nem para procriar” e procurou criar identifica­ção com a plateia.

“Nós somos a maioria, acreditamo­s em Deus. A cultura judaico-cristã está em nosso meio.” Foi aplaudido diversas vezes e chamado de “mito”.

Cerca de 150 pessoas protestara­m com gritos como “judeu sem memória”, em alusão a Hitler. Bolsonaro chamou os manifestan­tes de “cérebro de ovo cozido”.

O presidente da Federação Israelita do Rio, Herry Rosenberg, afirmou que “é perigoso quando resolvemos nos unir a outros fora de nossa comunidade para nos manifestar­mos contra um problema de política comunitári­a. Pode levar a uma exposição negativa”. A falafoirec­ebida poralgunsc­omo crítica ao protesto.

Uma advogada disse numa rede social que a manifestaç­ão foi mais pacífica do que a mensagem que saiu do salão.

O presidente da HebraicaRJ, Luiz Mairovitch, disse estar “aberto a ouvir ideologias A ou B, importante é conhecer os perigos ou benefícios que um político pode trazer. Não adianta fingir que ele ou tal ideologia não existe”.

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Pedro Ladeira/Folhapress Reunião do Conselho de Ética da Câmara, que determinou a aplicação de uma advertânci­a ao deputado Jean Wyllys

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