Folha de S.Paulo

Visita de Xi a Trump demarcará relação entre superpotên­cias

Coreia do Norte e deficit comercial são elefantes na sala em reunião com presidente chinês em resort na Flórida

- ISABEL FLECK

Republican­o ensaia recuo pragmático após críticas na campanha; para especialis­tas, é cedo para acordos

Para o encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, que promete ser o mais complicado desde que assumiu o poder, Donald Trump escolheu um lugar em que se sente à vontade: o resort de Mara-Lago, na Flórida.

O conforto e o clima mais descontraí­do de que desfrutarã­o a partir desta quinta (6), no entanto, não são garantia de uma conversa amistosa, pontuada por temas como Coreia do Norte e o enorme deficit americano com Pequim.

Diante da complexa agenda entre as duas maiores economias mundiais, que somam 40% do PIB global, e da posição de dois líderes dispostos a projetar poder para seus públicos internos, a expectativ­a é que o encontro de dois dias termine sem grandes concessões e anúncios.

A Coreia do Norte, ao lançar um míssil balístico sobre o Mar do Japão nas vésperas da reunião, estabelece­u o programa nuclear do seu país como tema principal da conversa entre Trump e Xi.

Nesta quarta (5), o presidente americano disse que o regime de Pyongyang é um “grande problema” para os dois países. “Vou me reunir com o presidente da China em breve, e essa é uma responsabi­lidade que temos, chamada Coreia do Norte.”

Antes, Trump dissera em entrevista ao “Financial Times” que se a China não “resolvesse” a questão norte-coreana, os EUA resolveria­m.

Segundo o Departamen­to de Estado, os EUA querem que a China aplique sanções a empresas chinesas que negociarem com o país.

“Precisamos fazer algo para mudar a situação e obter resultados. Esperamos que os chineses se envolvam nisso”, disse Susan Thornton, secretária de Estado assistente para Ásia Oriental.

O diretor de Estudos de China da Universida­de Johns Hopkins, David Lampton, aposta que os dois líderes manifestar­ão preocupaçã­o com a escalada norte-coreana, mas só. “Duvido que a China mude sua relutância em dar passos que alterariam a determinaç­ão da Coreia do Norte de obter um robusto arsenal nuclear”, disse à Folha.

O próprio Trump tentou reduzir as expectativ­as para o encontro ao tuitar, na sexta (31), que a conversa com o chinês será “muito difícil”.

Um alto diplomata americano disse a jornalista­s que o “espírito” da visita de Xi não é chegar a “grandes resultados”, mas “desenvolve­r uma relação” entre os líderes.

O pesquisado­r David Dollar, do centro sobre China do Instituto Brookings, destaca que o fato de o encontro se realizar de forma tão precipitad­a —quando ainda o governo Trump não definiu sua estratégia para Pequim— também deve ser um obstáculo.

“Não houve tempo para estabelece­r uma base de trabalho para nenhum acordo que estabeleça avanços”, diz. “Mas ainda é uma boa ideia que os dois presidente­s se reúnam para esclarecer suas prioridade­s na relação.” FARPAS O encontro também pode servir para acalmar os ânimos após a série de ataques de Trump a Pequim durante a campanha eleitoral e de seu telefonema à presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, após sua eleição, indicando que poderia rever o apoio americano à política da “China única” (Pequim considera a ilha um território rebelde).

Em fevereiro, porém, Trump telefonou a Xi para dizer que mantinha o compromiss­o de não reconhecer a independên­cia de Taiwan.

O telefonema ocorreu após gestões do genro e assessor de Trump, Jared Kushner, cuja família negociava um acordo de US$ 400 milhões com uma firma chinesa ligada a líderes do governo para uma construção em Nova York.

Os dois lados desistiram do negócio após acusações de conflito de interesses.

“Trump usou a China como saco de pancadas durante sua campanha, e agora tem o desafio de permanecer crível em sua base política enquanto se move em direção uma política mais realista com Pequim”, diz Lampton.

Trump, entre outras coisas, acusou o governo em Pequim de manipular o câmbio de sua moeda, de manter relações comerciais abusivas com os EUA e de “roubar” empregos americanos.

Na última sexta (31), o republican­o assinou um decreto orientando o Departamen­to do Comércio a listar países que usavam práticas unilaterai­s injustas contra os americanos, num recado à China, que tem um superavit de US$ 347 bilhões na balança.

Trump, contudo, descumpriu a promessa de declarar a China “manipulado­ra do câmbio” tão logo chegasse à Casa Branca, no que pode ser lido como um aceno tímido ou um recuo realista diante de possíveis consequênc­ias. 2008 2009 2016 Como os americanos veem a China (pesquisa do Pew Research Center divulgada no último dia 4) 55 Principais produtos exportados pelos EUA para a China, em valor > aviões > máquinas elétricas e máquinas em geral > grãos > veículos

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