Folha de S.Paulo

EUA dizem à ONU que agirão na Síria se organizaçã­o hesitar

Mudança de posição ocorre após ataque com armas químicas que matou mais de 70 em província síria

-

Rússia veta rascunho de nações ocidentais pedindo investigaç­ão e atribui ação com gás tóxico a rebeldes

A representa­nte dos EUA no Conselho de Segurança da ONU criticou, nesta quarta (5), a atuação das Nações Unidas após o ataque químico que matou ao menos 72 pessoas na Síria na véspera e disse que os EUA podem ignorar eventuais vetos do conselho a uma ação no país árabe.

Ela não deu detalhes do que seria essa ação.

O presidente Donald Trump, por sua vez, atribuiu em entrevista coletiva ao lado do rei Abdullah, da Jordânia, o uso de armas químicas ao regime de Bashar al-Assad e disse que sua atitude em relação ao ditador e à Síria “mudou muito” após o ataque.

Apesar de subir o tom, Trump se esquivou de falar em retaliação militar direta.

Sua embaixador­a na ONU, Nikki Haley, foi mais contundent­e. “Quando as Nações Unidas fracassam seguidamen­te em sua tarefa de atuar de forma coletiva, há momentos na vida dos Estados em que nos vemos impulsiona­dos a atuar por conta própria”, declarou.

O ataque na província de Idlib (noroeste da Síria) deixou 72 mortos, sendo 20 deles crianças, e mais de 160 feridos, segundo a ONG Observatór­io Sírio de Direitos Humanos, baseada em Londres.

O Conselho de Segurança da ONU convocou a reunião para esta quarta. Reino Unido, França e EUA apresentar­am uma proposta de resolução pedindo uma investigaç­ão exaustiva do ataque, mas a Rússia, aliada do governo Assad e também com poder de veto, chamou o texto de “inaceitáve­l”. DISTANCIAM­ENTO Na última semana, a embaixador­a Haley declarou que a queda do ditador sírio não era mais uma prioridade de Washington para a resolução da guerra civil na região, que se arrasta desde 2011.

A mudança de discurso após o ataque químico, portanto, não só distancia o governo Trump de al-Assad como cria ruído com o presidente russo, Vladimir Putin, até agora aliado de Trump.

Segundo relatos, os aviões usados nos ataques com gases tóxicos são de um tipo operado apenas por Moscou e Damasco na região. Ambos os governos, porém, negam envolvimen­to na operação.

Mais cedo na quarta, a Rússia defendera al-Assad alegando que as forças sírias bombardear­am um “armazém terrorista” de “substância­s tóxicas”, o que teria causado o vazamento do gás.

Trump disse que “esses atos de ódio do regime de Assad não podem ser tolerados”. “Não estou dizendo que faremos algo assim ou assado, mas certamente não contarei a vocês [o que farei]”, afirmou o presidente. AGENTES QUÍMICOS Também nesta quarta, a Organizaçã­o Mundial da Saúde afirmou que algumas vítimas do ataque na Síria apresentam sintomas de exposição a agentes neurotóxic­os.

Foram encontrado­s “sinais compatívei­s com uma exposição a produtos organofosf­orados (grupo de químicos usados como, por exemplo, pesticidas artificiai­s), uma categoria que inclui agentes neurotóxic­os”.

A ONG Médicos Sem Fronteiras afirmou que um dos seus hospitais na Síria tratou pacientes “com sintomas consistent­es com a exposição a agentes neurotóxic­os como o [gás] sarin”. PROVOCA > Lesões neurológic­as e gastrointe­stinais > Irritação dos olhos, cegueira temporária > Lesões nas vias respiratór­ias e vômitos constantes > Rompimento de vasos sanguíneos e bolhas bastante dolorosas que se espalham pelo corpo Usado na Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

 ?? Yuri Gripas/Reuters ?? O presidente dos EUA, Donald Trump, em entrevista após a visita do rei da Jordânia
Yuri Gripas/Reuters O presidente dos EUA, Donald Trump, em entrevista após a visita do rei da Jordânia

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil