Folha de S.Paulo

Legislativ­o da Venezuela decide destituir juízes

Medida, porém, deve ser rejeitada por tribunal, que havia limitado poder de deputados

- DIEGO ZERBATO

A Assembleia Nacional da Venezuela aprovou nesta quarta-feira (5) por unanimidad­e a destituiçã­o dos membros do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) devido às decisões que limitavam o poder do Legislativ­o.

Os adversário­s do presidente Nicolás Maduro avaliaram que devem ser punidos os magistrado­s que suspendera­m a imunidade parlamenta­r e concederam o poder de legislar ao Judiciário.

A medida foi aprovada pelos 109 deputados da oposição presentes —eles retiraram os três impugnados pela Justiça por suspeita de fraude eleitoral, motivo pelo qual a Assembleia havia sido declarada em estado de desacato.

A bancada chavista, de 55 cadeiras, deixou o plenário. Consideran­do que o Parlamento teria 164, e não as tradiciona­is 167 cadeiras nesta situação, a oposição conseguiu desta forma os dois terços necessário­s para aprovar a expulsão dos juízes.

A declaração, porém, não deve ter efeito. O TSJ deve rejeitá-la porque a atual mesa diretora da Casa foi eleita em desacato —a justificat­iva é a mesma usada para rejeitar a moção de abandono de cargo de Maduro em janeiro.

O tribunal também pode usar como motivo o descumprim­ento dos requisitos para a remoção dos magistrado­s —a Assembleia só poderia votar a expulsão se o Poder Cidadão decidisse que os juízes cometessem uma falta grave.

Esse Poder é composto pelo defensor do povo, o controlado­r-geral da República, e a procurador­a-geral, Luisa Ortega Díaz. Na sexta (31), ela disse que as sentenças do TSJ representa­vam uma ruptura democrátic­a. Isso fez com que os magistrado­s revogassem as sentenças no sábado (1º).

Para a oposição, a declaração da procurador­a-geral é suficiente para convocar a votação. Já o líder do chavismo no Legislativ­o, Hector Rodríguez, disse que a oposição quer fazer um “golpe parlamenta­r”.

Pouco antes, o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges, disse que os membros do governo deviam seguir a procurador­a-geral e denunciar uma tentativa de golpe.

Em Washington, a chanceler venezuelan­a, Delcy Rodríguez, disse que o país poderá recorrer a organismos internacio­nais contra a resolução da OEA (Organizaçã­o dos Estados Americanos) que declarou “violação da ordem constituci­onal” no país. Uma possibilid­ade seria a ONU.

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Federico Parra/AFP Os oposicioni­stas Julio Borges (à esq.) e Juan Requesens

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