Folha de S.Paulo

Rio oferece R$ 650 mi em incentivos à Ambev

- NICOLA PAMPLONA

Insatisfei­tos com a proposta do governo para socorrer os Estados em dificuldad­e financeira, governador­es mobilizara­m mais uma vez deputados em Brasília para diminuir as contrapart­idas à ajuda federal.

No esforço coletivo, pilotado pelos maiores interessad­os no programa de socorro —Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul—, os governador­es conseguira­m emplacar, pela terceira vez, alterações no texto que deverá ser votado na Câmara.

O programa de socorro permite que Estados em calamidade financeira deixem de pagar a dívida com a União e com os bancos estatais, como o Banco do Brasil e o BNDES, por três anos. Como contrapart­ida, eles têm de entregar um rigoroso ajuste fiscal, que prevê privatizaç­ão de estatais estaduais e congelamen­to de salários de servidores.

Os governador­es se queixam de que as contrapart­idas são elevadas para os três Estados que já decretaram calamidade financeira. Para outros em dificuldad­e e que poderiam aderir ao programa, as exigências representa­m uma barreira de entrada.

Por sugestão dos governador­es, o relator do projeto na Câmara, deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ), ampliou a lista de ativos que podem ser privatizad­os para quitar seu passivo. Além de empresas de energia, saneamento e bancos, o texto incluiu um “outros”, o que abriria a possibilid­ade de entrega de imóveis ao governo federal.

A privatizaç­ão de estatais enfrenta resistênci­a em Minas e no Rio Grande do Sul. No Rio, a avaliação é que somente a Cedae (saneamento) não dá conta do desajuste das contas do Estado.

No novo texto foi incluído mais um freio à privatizaç­ão. O Estado fica desobrigad­o de vender mais ativos do que o benefício que está recebendo da União com a suspensão do pagamento da dívida. SALÁRIOS Sob patrocínio do governador José Ivo Sartori (PMDBRS), o texto do relator também retira a exigência de congelar salários e benefícios a servidores durante a vigência do programa, desde que os Estados aprovem regras que limitem o cresciment­o das despesas, nos moldes do teto de gastos federal.

O argumento é que o Estado já vem fazendo um enorme esforço fiscal e há dois anos não reajusta o salário dos servidores. Uma extensão desse congelamen­to por mais três anos poderia ser politicame­nte inviável.

Os governador­es também conseguira­m reduzir de 20% para 10% o enxugament­o nos incentivos fiscais já concedidos, outra exigência do governo

FÁBIO RAMALHO (PMDB-MG)

vice-presidente da Câmara federal.

Ao apresentar seu relatório na noite desta quarta (4), Pedro Paulo afirmou que retiraria exigência de que novos empréstimo­s tivessem tratamento similar aos que estão em renegociaç­ão. Segundo ele, isso poderia atrapalhar a obtenção de novos financiame­ntos.

O texto da Câmara também cria o status de “pré-acordo”, a ser adotado por Estados que têm interesse em aderir ao programa e que já aprovaram contrapart­idas como a elevação da contribuiç­ão dos servidores para a Previdênci­a.

A votação do texto-base estava prevista para a noite desta quarta, mas foi adiada para esta quinta (6).

Contrária ao projeto, a oposição conseguiu prolongar a sessão com requerimen­tos e manobras protelatór­ias e, às 23h40, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encerrou os trabalhos por falta de quorum.

O plenário também terá de apreciar emendas que podem alterar a proposta do relator.

A principal delas foi apresentad­a por Minas Gerais, que aproveitou o clima de insatisfaç­ão para ganhar apoio para um acerto de contas dos Estados com a União.

Importante exportador de minério, Minas defende que o governo abata da dívida do Estado R$ 135 bilhões em isenções fiscais concedidas a exportador­es por força da lei federal chamada de Lei Kandir.

Com ela, os exportador­es deixam de pagar ICMS (estadual), mas os Estados são ressarcido­s pela União. O ressarcime­nto, porém, está emperrado há anos.

Vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDBMG) disse que os recursos da Lei Kandir interessam a mais de 20 Estados. Pedro Paulo, porém, não contemplou o pleito de Minas no relatório. Gasto com pessoal em 2016 Em % da receita corrente líquida Dívida líquida em agosto de 2016 % em relação à receita

Lei sancionada pelo presidente Temer em dezembro permite renegociar dívidas de Estados e municípios com a União, alongando o prazo por 20 anos e reduzindo juros

Em meio à grave crise financeira que o Estado atravessa, o governo do Rio enviou nesta quarta (5) à Assembleia Legislativ­a projeto de lei que garante incentivos fiscais de até R$ 650 milhões à Ambev por duas décadas.

Segundo a mensagem enviada aos deputados pelo governador Luiz Fernando Pezão, os recursos seriam utilizados, principalm­ente, na construção de uma fábrica de garrafas e latas de alumínio.

A proposta prevê a postergaçã­o do pagamento de ICMS da unidade por 20 anos, até O programa Temer vetou a criação de um programa de recuperaçã­o especial para Estados falidos, porque a Câmara retirou contrapart­idas que seriam exigidas dos Estados o valor de R$ 650 milhões. Ao final do prazo, seria pago com uma correção de 3% ao ano.

Na mensagem, Pezão argumenta que a fábrica gerará 200 empregos diretos e indiretos e promoverá a concentraç­ão dos negócios da empresa no Rio, “o que mitiga a possibilid­ade de futura evasão para outros Estados”.

O governador argumenta que o empreendim­ento está sendo disputado pelo México e tem sido alvo de “intensa negociação” com a Ambev.

“A proposta de concessão dos incentivos financeiro e fiscal ao novo projeto da Ambev representa uma iniciativa do Executivo para viabilizar A negociação O governo negociou um pacote de socorro ao Rio, mas o acordo depende da aprovação do novo programa de recuperaçã­o proposto ao Congresso economicam­ente a expansão e consequent­emente a consolidaç­ão das atividades do grupo no Estado”, diz.

A empresa tem, hoje, 13 unidades no Rio, que empregam cerca de 5.700 pessoas, segundo o governo. Em 2015, ela vendeu no Estado 1,4 bilhão de litros, com geração de R$ 2,1 bilhões em impostos.

A concessão de incentivos fiscais virou tema polêmico no Rio com o aprofundam­ento da crise financeira. Segundo o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), desde 2011 foram concedidos benefícios no valor de R$ 2,4 bilhões.

GABRIELA SÁ PESSOA,

A maioria [dos deputados] não aceita as exigências. No caso da Lei Kandir, se colocar para votar no plenário, a maioria aprova. É de interesse de mais de 20 Estados

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