Folha de S.Paulo

Em 1 h, chacinas deixam 9 mortos em SP

- MARTHA ALVES REGIANE SOARES Policiais protegem a cena da chacina no Jaçanã, na zona norte de São Paulo, onde seis pessoas morreram em um bar

DO “AGORA”

Ao menos nove pessoas morreram em duas chacinas nas zonas norte e sul de São Paulo em um intervalo de uma hora entre o final da noite de terça (4) e a madrugada desta quarta-feira (5). A SSP (Secretaria da Segurança Pública) descarta, por ora, a hipótese de relação entre os crimes.

Apesar de a secretaria confirmar nove óbitos e quatro pessoas feridas, a Polícia Militar apontava até a noite desta quarta-feira (5) dez mortes e três feridos.

Pela secretaria, o primeiro ataque aconteceu por volta das 23h20, em um bar na rua Antonio Sergio de Matos, região do Jaçanã (zona norte). Ao todo, nove pessoas foram baleadas na frente e dentro do estabeleci­mento, sendo que seis morreram.

Segundo o boletim de ocorrência, dois homens passavam em uma moto Honda Twister de cor prata pela rua Antônio Sérgio de Matos, quando um deles atirou diversas vezes em direção ao bar. Sidnei Rodrigues Cordeiro, 38, que estava na frente do estabeleci­mento, foi atingido.

Um dos suspeitos então desceu da moto e entrou no imóvel, seguindo para o banheiro, onde cinco homens se escondiam dos tiros. Todos foram baleados. Outras três pessoas foram feridas e encaminhad­as a hospitais da região.

Além de Cordeiro, morreram o marceneiro Valdir Pereira de Souza, 46, Adriano dos Anjos Silva, 39, Wellington IRMÃO DE VALDIR PEREIRA DE SOUZA marceneiro que morreu na chacina do Jaçanã, na zona norte de SP MORADOR DO JAÇANÃ Claudino de Souza, 35, Gilmar Vieira da Silva, 39, que era funcionári­o do bar, e Luiz Fernando Ramos, 39, vigia.

No local, foram apreendida­s cápsulas de armas calibre 45. A polícia não informou se as vítimas tinham passagem.

Vizinhos ao bar onde aconteceu a chacina no Jaçanã (zona norte) disseram que todos os mortos eram amigos e costumavam se reunir para conversar e beber.

“Eram todos trabalhado­res e tinham família. Ninguém aqui no bairro está acreditand­o no que aconteceu”, disse um morador da região, que preferiu não se identifica­r.

Irmã de uma das vítimas, a desemprega­da Rafaela Ramos dos Santos, 29, classifico­u a chacina de “tragédia”. Ela disse que seu irmão, o vigia Luiz, estava de folga na noite de terça e decidiu encontrar os amigos. Ele morava com a mãe e deixa um filho de 10 anos.

Familiares de Gilmar disseram que ele trabalhava no bar para sustentar os cinco filhos, com idades entre 3 e 21 anos. “Era um bom pai e marido”, disse um parente. Já o marceneiro Valdir era separado, morava com a mãe e deixa dois filhos, de 12 e de 15 anos.

Segundo familiares, Valdir tinha ido até o bar para medir um balcão que o dono tinha encomendad­o. “Ele abriu uma oficina recentemen­te no bairro. Pegou o serviço do bar e foi tirar as medidas. Estava no lugar certo na hora errada”, disse um dos seus irmãos, que não quis ser identifica­do. ZONA SUL A segunda chacina ocorreu em dois endereços do Campo Limpo (zona sul). Segundo a secretaria estadual, a primeira aconteceu por volta da meia noite, na rua Carualina, onde Wizmael Dias Correia, 19, foi atingido por dois tiros no rosto e morreu.

Testemunha­s disseram que ele estava andando de moto quando percebeu que estava sendo seguido por duas pessoas em uma motociclet­a Honda XRE. Assustado, Wizmael desceu da moto, e o garupa da XRE atirou e fugiu.

Meia hora depois, três homens foram baleados na rua Professora Nina Stocco, a cerca de 500 m do local do primeiro ataque. Também numa Honda XRE, os criminosos passaram atirando. Kayke Santos Moreira, 20, e Vinícius Aparecido Paula Guedes, 19, não resistiram aos ferimentos.

A vítima que sobreviveu disse aos policiais que estava entregando uma pizza e parou no local para pedir informaçõe­s. Ele foi ferido na mão e está internado.

Cápsulas de balas 380 e 9 mm foram recolhidas. O DHPP (Departamen­to de Homicídios e Proteção à Pessoa) assumiu a investigaç­ão. Ninguém havia sido preso até a conclusão desta edição INVESTIGAÇ­ÃO O secretário estadual de Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, disse em entrevista à rádio CBN que, por enquanto, não há indícios de participaç­ão de policiais nas duas chacinas. As diferentes munições encontrada­s, por exemplo, não são compatívei­s com as usadas pelas polícias paulistas.

“Não vamos descartar nenhuma possibilid­ade, mas não há nada que indique [a participaç­ão desses agentes] nesses crimes”, disse à rádio.

O secretário da pasta ligada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB) também descartou, por ora, relação entre os crimes, apesar de terem ocorrido da mesma forma: com os assassinos usando motos.

Ele abriu uma oficina recentemen­te no bairro. Pegou o serviço do bar e foi tirar as medidas. Estava no lugar certo na hora errada Ninguém no bairro está acreditand­o no que aconteceu

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Mario Angelo/Sigmapress/Folhapress Atiradores estavam de moto; Segurança diz que crimes não estão ligados e não há evidência de participaç­ão de policiais

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