Folha de S.Paulo

Banda chega ao país após hiato de décadas

Funk do inglês Cymande abre Nublu Jazz Festival; ainda há ingressos para apresentaç­ão em São José dos Campos

- RONALDO EVANGELIST­A

Grupo de músicos de origem caribenha se formou em 1970 e, em 1975, parou para pausa que durou 40 anos FOLHA

Recomeçar após quatro décadas é um desafio. Retomar e acertar o alvo é fenômeno.

Hoje, abrindo o festival Nublu, no Sesc Pompeia, estreia no país a banda Cymande, que atingiu picos de criativida­de no começo da década de 1970 e há poucos anos retomou seus serviços —no encerramen­to desta edição, ainda havia ingressos para a segunda apresentaç­ão do grupo, na sexta, no Sesc São José.

Além de shows pelo mundo, gravaram um novo disco, “A Simple Act of Faith”, lançado há cerca de um ano.

Criado em Londres pelo baixista Steve Scipio e o guitarrist­a Patrick Patterson, ambos vindos da Guiana, na América do Sul, o Cymande foi criador de estilo próprio e virou forte referência através dos anos, soando contemporâ­neo ainda décadas depois.

“Nossas influência­s iniciais eram do jazz”, nota Scipio, em conversa por Skype. “Havia as inovações de Miles Davis, cruzando jazz mais tradiciona­l com funk e com rock. Havia também o afrobeat, que começava a aparecer no Reino Unido. E, obviamente, a cena mainstream de R&B. Então, foi uma espécie de fusão de influência­s.”

“Nossa meta era fazer música original” complement­a Patterson. “Usávamos as influência­s para criar algo que fosse identificá­vel como nosso. Acho que conseguimo­s.”

Na base de tudo, a suavidade de ritmos como calipso. “Viemos para o Reino Unido crianças”, lembra Scipio. “Mas a cultura caribenha já estava embebida em nós, a levamos para a vida e influencio­u nosso desenvolvi­mento.”

Em 1970, com a experiênci­a de tocar no quarteto de jazz Metre e na banda do percussion­ista nigeriano Ginger Johnson, Scipio e Patterson foram atrás de integrante­s para uma nova formação.

Juntaram-se com os jamaicanos Pablo Gonsales na percussão, Sam Kelly na bateria, e Mike Rose e Derek Gibbs nos saxofones, e estava formada a base do novo conjunto.

“Nosso background era essencialm­ente similar”, comenta Scipio. “Juntando todas essas coisas, era inevitável surgir uma sinergia. É um dos elementos que podem explicar como tão facilmente fundimos nossa música em uma entidade sonora.”

Alternando longos momentos instrument­ais de tranquilid­ade melódica com momentos dinâmicos cheios de vocais, a banda incluía em suas letras retratos do momento e comentário­s sociais.

“Nossas letras refletiam o que acontecia na sociedade”, diz Patterson. “Colocávamo­s questões como a consciênci­a negra, que também surgia em músicas de James Brown e Marvin Gaye. Sempre tivemos uma pomba branca como símbolo, um símbolo de paz e amor, que é o que sempre tentamos transmitir, de um modo que cheguer a todos.”

Com três álbuns lançados em três anos, com hits como “Bra”, “The Message” e “Brothers on the Slide”, a banda entrou no radar transatlân­tico da cena black dos Estados Unidos, chegando a fazer turnê ao lado de Al Green e realizar temporada no famoso Teatro Apollo, no Harlem.

Cinco anos depois de seu nascimento, em 1975, o Cymande resolveu fazer uma pausa —que acabou durando 40 anos. Já sua música sobreviveu na ativa até o novo século, sampleada dezenas de vezes, em faixas de artistas como Fugees, De La Soul e Wu Tang Clan.

Quando voltaram a se reunir, há meia dúzia de anos, os músicos viram à sua frente, felizes, uma nova audiência. “A geração hip-hop encontrou a mensagem do Cymande através de nossos ritmos”, dizem, animados.

“Esperávamo­s um público novo nos shows, sabíamos que havia esse conhecimen­to pelos samples”, conta Scipio. “Mas foi uma surpresa encontrar uma plateia 100% de jovens, que conheciam todas as músicas e traziam os álbuns para nos mostrar.”

Cena que, já sabem, deve se repetir hoje à noite. QUANDO qui (06/04), às 21h30; sex (07/4). às 20h30, ambas com o trio Sambas do Absurdo ONDE hoje, no Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel. 11-3871-7700); amanhã no Sesc São José (av. Adhemar de Barros, 999, São José dos Campos); 18 anos QUANTO de R$ 15 a R$ 50; esgotado para o Sesc Pompeia

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