Folha de S.Paulo

CRÍTICA Individual­ismo vira violência em longa

Instintos que não passam por mediações evoluem para realização ou morte em ‘Cães Selvagens’

- INÁCIO ARAUJO

FOLHA

Com Paul Schrader, a gente nunca sabe muito bem no que a coisa vai dar. Pode resultar numa obra-prima, como “Adam Resurrecte­d”, de 2008, ou no impossível “Vale do Pecado” (2013).

O certo é que o realizador norte-americano nos levará a terrenos pantanosos e, quanto a isso, “Cães Selvagens” não enganará ninguém.

Já na primeira cena o espectador saberá com o que lida: tanto a presença estranha, agressiva, de Mad Dog (Willem Dafoe) como a da gorda mulher em cuja casa se encontra parecem dar conta do território de desequilíb­rios em que Schrader projeta seus personagen­s.

Se houver ainda alguma dúvida, o par de assassinat­os que comete em poucos minutos dá bem ideia do quanto é justa a palavra Mad (louco) em seu apelido.

Ele não é o único. Se Mad Dog tem como caracterís­tica a incapacida­de de conter seus impulsos destrutivo­s, Diesel é um brutamonte­s que sabe conter os seus muito bem —sem por isso ser menos violento.

Resta um terceiro, Troy (Nicolas Cage), o mais racional deles e também líder da gangue. Troy conta com a confiança dos dois quando, em vez de pequenos crimes, opta por fazer negócio com o mafioso El Greco (Schrader).

O que resulta daí não vem ao caso aqui. O essencial é que Schrader desvia-se tanto do modelo estéril de policial violento, povoado de seres infra-humanos, como do policial clássico, em que, por perversos que fossem os personagen­s, existia uma questão moral, social ou psicológic­a na base de seu tormento.

Os cães selvagens são todos: os mortos e os sobreviven­tes, os bandidos e os policiais (que em uma das cenas mostram toda a extensão de seu sadismo), os gângsteres e os subgângste­res.

Todos, a rigor, pretendem fazer dos outros suas marionetes. Todos, no fundo, não passam de marionetes.

Esse é o lado forte do filme: construir um mundo de pura destruição. Como se o individual­ismo tivesse evoluído para uma espécie de doença armada, na qual os instintos não passam mais por nenhuma espécie de mediação: ou se realizam ou se consomem no assassinat­o e na morte.

O lado fraco deriva, talvez, da entrega de Schrader ao gênero. Sabe-se o que define o cinema “para homens”: violência e boca suja. Dentro dele existem parâmetros de criativida­de e dignidade: o William Friedkin de “Killer Joe”, por exemplo, pode ser visto como um paradigma.

A Schrader, com suas cabeças explodindo na tela, parece óbvio que falta a sutileza que caracteriz­a os belos filmes. Seu “Cães Selvagens” está bem no meio do caminho: nem é nulo, nem tolo, nem muito inventivo, nem sutil. É visível. (DOG EAT DOG) DIREÇÃO Paul Schrader ELENCO Nicolas Cage, Willem Dafoe, Christophe­r Matthew Cook PRODUÇÃO EUA, 2016, 16 anos QUANDO estreia nesta quinta (6) AVALIAÇÃO bom VEJA TAMBÉM HQ - EDIÇÃO ESPECIAL Em dez episódios, esta série busca retratar os quase cem anos das histórias em quadrinhos no Brasil, indo da chegada de heróis estrangeir­os às tirinhas políticas e fanzines de humor. Na estreia, vão ao ar dois capítulos. HBO Plus, 18h, 14 anos E AINDA DIÁLOGOS Prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) falará sobre os primeiros meses de gestão, a Lava Jato, a disputa presidenci­al e a relação com Geraldo Alckmin, também apontado como presidenci­ável pelo PSDB. GloboNews, 23h, Livre

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As criaturas amarelas que dão nome ao filme ‘Minions’

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