Folha de S.Paulo

Candidatos a Berlusconi

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RIO DE JANEIRO – “A história é rica de homens aventureir­os, com carisma e escasso sentido de Estado, mas com um alto sentido de seus próprios interesses, que desejam instaurar um poder pessoal, passando por cima de parlamento­s, magistratu­ras e constituiç­ões, distribuin­do favores entre seus cortesãos e cortesãs.”

A estocada —do romancista e semiólogo Umberto Eco, publicada na revista “L’Espresso” em 2009— tinha como alvo Silvio Berlusconi, então primeiro-ministro da Itália pós-Operação Mãos Limpas. Também serve para o Brasil de ontem —e o de hoje, sacudido pela Lava Jato. A carapuça encaixa-se à perfeição em certas cabeças que surgem como presidenci­áveis nas eleições de 2018.

De um lado está Lula, velho conhecido. De outro, aqueles que se apresentam como novidade. Prefeito de São Paulo que se veste como antipolíti­co profission­al, João Doria disputa a indicação pelo PSDB. Usa, em sua “gestão”, o molde da demo- cracia populista criada nos programas de televisão. E aproveita qualquer oportunida­de para bater naquele que prefere como adversário: “Lula é um bandido”.

Com o mesmo figurino midiático e um nariz de tucano ainda maior, Luciano Huck lançou seu balão de ensaio em entrevista à Folha (30/03). Numa frase, mostrou o que se pode esperar dele na política: “Se foi golpe ou não, não importa”.

Jair Bolsonaro (PSC-RJ) leva o discurso de ódio presente nas redes sociais —onde tem milhares de seguidores com cara de ovo— para sua campanha. Em recente palestra no clube Hebraica, narrou a visita que teria feito a uma comunidade quilombola: “O afrodescen­dente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais”.

Em tempo: Berlusconi renunciou em 2011, para tirar o país do abismo econômico e livrar-se de um chorrilho de escândalos. VANESSA GRAZZIOTIN

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