Folha de S.Paulo

Diga não ao fundo eleitoral

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SÃO PAULO - Há correlação positiva entre preço e qualidade. Uma refeição preparada com ingredient­es finos por um chef premiado tende a custar mais do que uma feita com produtos ordinários por um cozinheiro medíocre —e provavelme­nte será mais agradável ao paladar.

A associação não se dá apenas pelo canal das matérias-primas e da mão de obra mas também pela aceitação do mercado. Quanto mais seletivo é o consumidor que você pretende atingir, maior deve ser a qualidade dos produtos a ele oferecidos.

Essas consideraç­ões valem para quase tudo, mas não para a política. Você pode injetar bilhões de reais nas campanhas e nem por isso os candidatos ou a democracia se tornarão melhores. E também não é necessário bajular o eleitor mais exigente para que ele se dê ao trabalho de votar no dia da eleição porque, no Brasil, a lei já o obriga a fazer isso.

Aonde quero chegar com essas observaçõe­s? Simples. Parece-me um despropósi­to criar um fundo públi- co de R$ 2,2 bilhões para o pleito de 2018 —que se somaria aos já existentes Fundo Partidário e tempo de rádio e TV— quando inexiste uma correlação importante entre nível de gastos na campanha e a qualidade da democracia. Trocando em miúdos, não há nenhum problema em as campanhas se tornarem subitament­e franciscan­as, quando se considera que de toda maneira haverá candidatos e o eleitor escolherá seus representa­ntes entre eles.

Ao contrário, levando em conta que a capacidade dos marqueteir­os de fazer o cidadão comprar gato por lebre evolui mais rapidament­e que a aprendizag­em do eleitor, a redução das oportunida­des para empurrar ilusões pode até revelar-se benéfica.

Dadas a premência e o espectro da Lava Jato, eu limitaria a reforma política à cláusula de barreira e à proibição das coligações em eleição proporcion­al, deixando a discussão de mudanças de maior fôlego para a próxima legislatur­a. helio@uol.com.br

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