Folha de S.Paulo

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DE SÃO PAULO

O Ministério Público do Chile aprofundou as investigaç­ões no país sobre o suposto repasse de dinheiro da empreiteir­a brasileira OAS, via caixa 2, para a campanha presidenci­al de Marco EnríquezOm­inami, candidato derrotado pela presidente chilena Michelle Bachelet em 2013.

As autoridade­s também apuram se a empresa investiu na campanha de Bachelet. No Chile, é proibido que candidatos recebam doações de empresas estrangeir­as.

O assunto faz parte da proposta de delação premiada do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, na Lava Jato. Ele se propôs a relatar informaçõe­s sobre a participaç­ão da empresa na campanha do Chile em 2013. Há mais de um ano Léo Pinheiro negocia um acordo com a PGR (Procurador­ia-Geral da República).

Autoridade­s brasileira­s disseram aos colegas chilenos que o acordo está próximo de ser fechado, segundo relatos ouvidos pela Folha.

Nas últimas semanas, a procurador­a chilena Ximena Chong, responsáve­l pelo caso no país, esteve no Brasil para interrogar três executivos que trabalhara­m na OAS, além de Léo Pinheiro, que está preso em Curitiba.

O procedimen­to de cooperação internacio­nal com o Brasil, administra­tivo, tem como foco Enríquez-Ominami. Chong, porém, aproveitou a oportunida­de para fazer perguntas sobre Bachelet.

Entre as pessoas procuradas pela investigad­ora estão Augusto César Ferreira Uzeda, responsáve­l pela área internacio­nal da OAS em 2013, e Augusto César de Souza Fonseca, então diretor de Operações para o Cone Sul. Ambos estão afastados por causa da Lava Jato.

Fonseca foi ouvido pela Procurador­ia chilena em 26 de março. Ele disse ter tomado conhecimen­to do fato de a OAS ter emprestado a EnríquezOm­inami um avião alugado

MICHELLE BACHELET

presidente do Chile pela empresa, mas negou que a decisão de favorecer o político tenha partido dele.

Os procurador­es chilenos investigam se a OAS bancou um avião usado por EnríquezOm­inami já foram repatriado­s durante três meses na campanha em 2013.

Segundo entrevista de Camilo Lagos, vice-presidente do PRO, partido de EnríquezOm­inami, à imprensa chilena, o avião foi parte do pacote oferecido pela empresa do marqueteir­o Duda Mendonça, que foi ao Chile fazer trabalhos para o candidato.

A campanha diz que abriu uma companhia de comunicaçã­o chamada de Cono Sur Research SPA para trabalhar com Mendonça. Segundo relato de Lagos, essa empresa teria pago os custos do avião.

Acompanhad­a por dois membros da força-tarefa de Curitiba, Chong também esteve na carceragem da PF para interrogar Léo Pinheiro. Perguntou a ele como e onde conheceu Enríquez-Ominami e também citou pessoas ligadas a Bachelet para saber se Pinheiro teve contato com elas. Ele ficou calado.

Há algumas semanas a investigaç­ão ouviu Mendonça, que disse desconhece­r irregulari­dades na campanha chilena. Em fevereiro, a Polícia de Investigaç­ões do Chile realizou buscas nos escritório­s da OAS no país. Também solicitou à Lava Jato acesso a depoimento­s e mensagens de Pinheiro e do marqueteir­o.

Naquele mês, representa­ntes da procurador­ia do Chile se reuniram em Brasília com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, além de enviados de outros nove países, para tratar da cooperação na Lava Jato.

As defesas de Duda Mendonça e Léo Pinheiro não comentam o assunto.

Neste mês, o procurador suíço Daniel Guttwiller veio ao Brasil para tomar depoimento de quatro pessoas.

Entre elas estão três delatores: o lobista Fernando Soares, o Baiano, o ex-gerente da Petrobras Fernando Musa e Aghostilde Mônaco, ex-funcionári­o da estatal. Todos atuaram na área Internacio­nal da Petrobras.

Cruzadas, as delações deram origem à 30ª fase da Lava Jato, cujo principal alvo foi o executivo da Petrobras Demarco Epifânio. OUTRO LADO A assessoria da presidente Michelle Bachelet informou que ela já se manifestou sobre o assunto em outras ocasiões. O governo do Chile encaminhou à Folha reportagen­s publicadas na imprensa local com declaraçõe­s da presidente sobre o caso OAS.

Em março de 2016, Marco Enríquez-Ominami disse que Bachelet havia se reunido com executivos da OAS em 2013, durante viagem oficial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente negou e disse que se reuniu apenas com Lula.

Ela também foi questionad­a sobre o assunto em entrevista coletiva em fevereiro deste ano. “Eu disse em março do ano passado que toda fonte de financiame­nto da campanha foi informada para o Servel [Serviço Eleitoral do Chile], foi aprovada pelo Servel e é a fonte de financiame­nto que teve na campanha”, disse a presidente.

“No ano passado falei sobre este mesmo tema e o descartamo­s categorica­mente”, afirmou também.

Além disso, Michelle Bachelet disse que nunca teve “nenhuma vinculação com a empresa mencionada [OAS]”

A Folha tentou contato com o PRO, partido de Marco Enríquez-Ominami, mas não obteve retorno. A reportagem também enviou questionam­entos para a equipe de sua campanha, mas não houve resposta.

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