Folha de S.Paulo

Davos brasileira

- NIZAN GUANAES COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo: Samuel Pessôa

A BRAZIL Conference se estabelece como a Davos brasileira. A ideia é inspirador­a: uma vez por ano, alunos brasileiro­s de Harvard e do MIT criam um espaço para que, à luz desses dois templos do conhecimen­to, o Brasil faça uma reflexão sobre si e sobre o mundo.

Harvard e MIT estabelece­m uma régua acima do que o Brasil é hoje para ajudar o Brasil a adotar o tamanho que ele tem que tomar.

Esses garotos estudiosos estabelece­ram também um tom para a conversa —o tom do respeito. Você não precisa concordar com os outros, mas você precisa respeitar os outros.

Foi o que vimos no fim de semana passado nas conversas de Gilmar Mendes com José Eduardo Cardozo e de Olavo de Carvalho com Eduardo Suplicy. E na mistura de cabeças como Gilberto Gil, Wagner Moura, ACM Neto, Luciano Huck, Armínio Fraga e tantas outras.

A ex-presidente Dilma foi tratada com respeito. Foi bacana ver o juiz Sergio Moro respondend­o com simpatia sobre outras pautas e o procurador Deltan Dallagnol sentado no meio dos estudantes para ouvir Gilberto Gil. Moro e Dallagnol, por sinal, foram os reis das selfies.

Foi, em suma, um evento que promoveu o que precisa ser promovido: a inteligênc­ia e a razoabilid­ade.

O Brasil tem três reformas fundamenta­is urgentes: a reforma da Previdênci­a, sem a qual a conta não fecha; a reforma política-eleitoral, sem a qual não haverá combate efetivo à corrupção; e a reforma psíquica. O Brasil está extenuado, à beira de um ataque de nervos. Se não tivermos uma trégua psíquica, se os pingos não voltarem aos is, se o Tico não voltar a falar com o Teco, não será possível tocar o país à frente.

Foi um debate luminoso. Foi também uma canja de galinha para a alma, um remanso, ver o Brasil discutindo de maneira pacifica o Brasil.

Foi o que fez Gilberto Gil, autor de tantos hinos à paz, colocando a plateia sentada no chão de uma maneira hippie, transforma­ndo Harvard em Arembepe. Havia muito tempo não ia a um evento que tivesse me emocionado tanto, que tivesse levado tanta água aos meus olhos.

E sai dele um movimento interessan­te de estudantes brasileiro­s no exterior que querem se envolver com a política. Chama-se Acredito. Num país onde o cinismo corrói a fé e a esperança, eles merecem ao menos o crédito da dúvida. São jovens que querem fazer política no meio desse rebaixamen­to da política, para elevá-la. É um sonho bom e grande.

O tema da conferenci­a foi “Diálogos que Conectam”. E 2018 deve ser a hora do diálogo, não a hora da batalha campal. As pessoas vão discutir, elas têm visão diferentes de quem deve ser presidente. Mas vamos debater em alto nível, com compaixão e respeito. Depois que o último voto entrar na urna e o presidente for eleito, que ele seja o presidente de todos nós. Essa é a solução democrátic­a. É o que fez Hilary e Bill Clinton irem à posse de Trump. Eles não concordam com Trump, mas concordam com a democracia.

Esse foi o caminho que Harvard e MIT apontaram para nós num encontro inacreditá­vel, encerrado com a presença de Warren Buffett e Jorge Jorge Paulo Lemann, mostrando, juntos, a força do capitalism­o inovador.

Os estudantes brasileiro­s vindos da França inspiraram a Inconfidên­cia Mineira. Séculos depois, os estudantes brasileiro­s de Harvard e MIT chamam a atenção do Brasil criando uma Davos brasileira.

Vamos botar fé nessa rapaziada, “powered by” Jorge Paulo. Porque a fé e Jorge Paulo não costumam falhar.

Não perca a conferênci­a do ano que vem. E faça como eu: leve o seu filho.

Os estudantes brasileiro­s de Harvard e MIT chamam a atenção do Brasil criando uma Davos brasileira

NIZAN GUANAES,

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