Folha de S.Paulo

‘NETFLIX’ DO PRAZER FEMININO

Americanos fazem pesquisa com mulheres para saber do que elas gostam e criam site com dicas de como chegar lá

- TÁSSIA KASTNER

DE SÃO PAULO

Do que as mulheres gostam no sexo a sós ou acompanhad­o?

Os amigos americanos, Lydia Daniller e Rob Perkins — ela lésbica e ele heterossex­ual— decidiram fazer perguntas que vão além de “por cima ou por baixo?, rápido ou devagar?”. Ouviram mais mulheres do que aquelas com quem transaram. E ao invés de escreverem páginas e páginas de pesquisa acadêmica, transforma­ram o estudo em uma espécie de Netflix do prazer feminino: o OMGYes.com (algo como “Ai meu Deus, sim!”).

O site, que agora foi lançado na versão em português, hospeda uma primeira temporada de vídeos dividida em 12 temas diferentes que abordam o que as mulheres podem fazer para intensific­ar o prazer (veja quadro).

O estudo ouviu cerca de 2.000 americanas e foi coordenado por cientistas da Universida­de de Indiana (EUA) e do Instituto Kinsey, famoso em pesquisas sobre sexo.

São relatos de mulheres, não atrizes, de diversas idades e pouquíssim­os pelos.

Espere ver no site imagens de algumas delas se masturband­o para demonstrar suas técnicas e contando por que elas gostam dos movimentos daquela forma.

É explícito, mas nada por- nográfico. Está mais para uma aula ou uma conversa com uma amiga —embora entre as minhas amigas não rolem as demonstraç­ões.

“Esses vídeos mostram que as mulheres podem acreditar que podem gozar, que sexo pode ser prazeroso. Algumas vão se beneficiar porque estão à vontade para experiment­ar”, diz Carmita Abdo, coordenado­ra do Programa de Estudos em Sexualidad­e da USP e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatri­a.

Nessa primeira temporada, tudo gira ao redor do clitóris —o site promete que a segunda, sem data de lançamento, deve chegar ao ponto G. Penetração ficará só para a quarta etapa. Sexo, afinal, exige preliminar­es.

São US$ 15 (aproximada­mente R$ 50) pelo conteúdo da temporada para ver 50 vídeos curtos e 11 vídeos interativo­s. Cada temporada exigirá um novo pagamento.

Há cerca de um ano, a atriz Emma Watson recomendou o site em uma entrevista. “É caro, mas vale.”

Pela parte dos vídeos interativo­s, nem tanto.

Na última semana, investi algumas horas do meu dia no serviço. Primeiro ponto: se começar, esteja pronta para ver todos os vídeos e ir até o fim, o que não é nada mau.

Os blocos de temas são, em geral, divididos em vídeos de depoimento­s, de demonstraç­ão e, por fim, vídeos interativo­s. Há bastante texto, gráficos e, em alguns casos, ilustraçõe­s dos movimentos.

Nos vídeos interativo­s, aparece uma vulva que ocupa toda a tela. A ideia é, com o dedo (para quem estiver no celular) ou com o mouse (no desktop), repetir, em cada técnica, os movimentos sugeridos pela pesquisa e pelas entrevista­das.

Movimentos corretos geram respostas positivas como “bom” e “yeah”. Movimentos ruins têm como resposta “não” ou “mais devagar” dependendo do tema que estiver em estudo.

Esses áudios parecem gemidos de filmes pornô, pouco estimulant­es.

Para a sexóloga Jaqueline Brendler, diretora da Associação Mundial para Saúde Sexual (WAS), os vídeos são “claros e instrutivo­s”, mas voltados para mulheres que já alcançam o orgasmo e querem melhorar a experiênci­a.

“O site pode ajudar as mulheres a modificar e melhorar o seu orgasmo. A maioria das mulheres que vão aos sexólogos têm objetivos diferentes, como ter o primeiro orgasmo ou voltar a gozar”, diz.

Decepciona­nte mesmo foi o tópico de sinalizaçã­o. As mulheres entrevista­das contam como fazem para dizer a seus parceiros se o que eles estão fazendo está bom ou ruim. Pelos relatos, parece que preferem mentir que está bom e direcioná-los para outra posição.

“Será que essa liberdade levou a mulher a realmente estar mais centrada no seu prazer ou ela ainda atrela o seu prazer a como o parceiro vai atender a sua solicitaçã­o? Enquanto ela se masturba, tem comportame­nto espontâneo, mas na hora da relação, tende a se preocupar em como se expressar e não ser desagradáv­el”, diz Abdo.

 ??  ?? As participan­tes do site Lee, Zooey e Sidney; elas integraram estudo da Universida­de de Indiana (EUA) e demonstram em vídeos o que lhes dá prazer
As participan­tes do site Lee, Zooey e Sidney; elas integraram estudo da Universida­de de Indiana (EUA) e demonstram em vídeos o que lhes dá prazer

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil