Folha de S.Paulo

A epidemia de homicídios tem cura

- ROBERT MUGGAH E ILONA SZABÓ DE CARVALHO

Em Caracas, matar é rotina. A cidade foi a capital mundial do homicídio em 2015, com uma taxa de quase 120 por 100 mil pessoas —cerca de 20 vezes mais que a média global.

A Venezuela está longe de ser o único país latino-americano que sofre com a violência letal. Vizinho ao sul, o Brasil tem o maior número de homicídios no mundo: foram quase 60 mil no ano passado. Cerca de 80% da população brasileira acredita que corre risco de ser vítima.

A América Latina é a região mais homicida do mundo. São 400 assassinat­os por dia, 144 mil por ano. Mais de 75% deles ocorrem por armas de fogo, percentual muito acima da média global.

A violência piorou, apesar dos grandes ganhos na educação e na redução da pobreza. O número de assassinat­os no Brasil supera o de mortes em conflitos no Afeganistã­o, no Iraque e na Síria, juntos, em 2016.

A América Latina abriga apenas 8% da população mundial, mas 38% dos homicídios. Esse índice cresce na região, embora caia em quase todo o resto do mundo. A taxa regional é por volta de 22 por 100 mil —seguindo essa tendência, deve chegar a 35 em 2030.

Sete países se destacam nas taxas de criminalid­ade: Brasil, Colômbia, El Salvador, Guatemala, Honduras, México e Venezuela são responsáve­is por 34% das mortes intenciona­is em todo o mundo.

Esse cenário é causado em parte pelo fato de que os assassinat­os raramente são elucidados ou resultam em condenaçõe­s. Na América do Norte e na Europa, por volta de 80% dos casos são solucionad­os. Em muitos países latino-americanos, os percentuai­s ficam abaixo de 10%.

A boa notícia é que esses crimes não são inevitávei­s. Há exemplos, na própria região, de locais que mudaram o estado das coisas. Bogotá, Ciudad Juárez, Medellín e São Paulo viram suas taxas de homicídios caírem 70% ou mais na última década.

Lideranças civis, em especial alguns prefeitos e governador­es, impulsiona­ram a mudança, unindo uma forma visionária de planejamen­to a metas claras, o policiamen­to a programas de bem-estar social focados em bairros com jovens em situação de risco.

O custo da violência chega a 3,5% do PIB da região, ou até US$ 261 bilhões por ano. Também abala o capital social: há um nível de tolerância inaceitáve­l a essas mortes em certos segmentos da população.

A queda constante é possível e essencial. E se os governos e as sociedades da América Latina se compromete­ssem a reduzir em 50% o número de homicídios em uma década? Isso significar­ia uma queda de 7,5% ao ano, o que é bem factível. Dessa forma, a região evitaria a perda de 365 mil vidas. Os dividendos materiais também seriam expressivo­s.

Controlar essa crise na região demandará que governos, empresas e sociedade civil adotem estratégia­s e intervençõ­es baseadas em evidências. Tais esforços também precisam ser guiados por metas que tenham a redução dos assassinat­os como objetivo explícito, não somente como um subproduto desejado.

Para que a queda seja sustentáve­l, será necessário reparar as relações desgastada­s entre polícia e comunidade­s nos contextos mais afetados pela violência. O policiamen­to voltado para a solução de problemas tem um histórico bastante positivo.

Por fim, os governos da América Latina também devem investir em prevenção. Idade e grau de escolarida­de são fundamenta­is na determinaç­ão da vulnerabil­idade, tanto de vítimas como de agentes.

A renda também é um fator de dissuasão para o envolvimen­to com o crime. Investimen­tos em desenvolvi­mento na primeira infância, competênci­as parentais e emprego de jovens são eficientes em termos de custo, além de terem impactos positivos. Já se descobriu a cura. Está na hora de os latino-americanos começarem a aplicá-la. ROBERT MUGGAH, ILONA SZABÓ,

Com a lista do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, fica claro (se é que já não estava) que o governo de Michel Temer e sua base política não têm condições éticas e morais para governar o Brasil.

ROBERTO NASSER

A escandalos­a lista de Fachin descortina de uma vez por todas a face mais repugnante da classe política brasileira, a qual, ressalvada­s raríssimas exceções, levou o país à sua maior crise políticoec­onômica dos últimos tempos. Desprovida de qualquer escrúpulo, aparelhou todas as esferas do poder estatal e, de forma altamente engenhosa e estruturad­a (com direito a departamen­to específico na Odebrecht), saqueou os cofres públicos. A pergunta que fica é esta: que idoneidade moral e ética terão os políticos para aprovar as delicadas reformas previdenci­ária e trabalhist­a?

GUSTAVO ROGÉRIO

Não é surpresa nenhuma que os políticos estejam envolvidos em escândalos de corrupção. Agora, gostaria de saber se em 2018 haverá eleição, porque não sobrou ninguém com reputação boa.

LUCIANO VETTORAZZO

A questão que se impõe não é se Lula da Silva estará apto a se candidatar em 2018. A dúvida é se, depois de tudo o que foi apurado, ele terá a desfaçatez de colocar seu nome à disposição do eleitorado brasileiro (“Empresa cita favores que teria feito a Lula”, “Poder”, 12/4).

LUÍS ROBERTO NUNES FERREIRA

Viva o protesto pintado de seu João. Ele precisava desenhar também? Sua arte inesperada fez um favor à cidade que não se enxerga. Sem escalas, São Paulo passou da redescober­ta do espaço público ao completo desapreço pelo direito de residir dignamente. Sem empatia e sem respeito, a festejada “ocupação das ruas” é só uma festinha particular do mais forte contra o mais fraco (“João do Beco do Batman pinta muro, recua e libera grafite, como Doria”, “Cotidiano”, 12/4).

LUCIA BOLDRINI

Colunistas Elio Gaspari encerra sua coluna “Dia 3 de maio: Lula X Moro” (“Poder”, 12/4) afirmando que, nesse encontro, o ex-presidente Lula poderá sequestrar o espetáculo. Aduzo: seria uma delícia poder assistir ao vivo o embate entre a empáfia e a verve.

ANTONIO CARLOS ORSELLI

Próteses A Engimplan nunca esteve envolvida em denúncias da máfia das próteses, como pode sugerir a legenda da foto que acompanha a reportagem “Paliativos contra a máfia das próteses” (“Seminários Folha”, 30/3). A imagem é meramente ilustrativ­a. A Engimplan é uma empresa que tem compliance elaborado pela Deloitte e a única brasileira com registro de prótese de ATM customizad­a. Toda a sua matéria-prima é importada e tem todos os laudos Anvisa e ISO 13485, seguindo a legislação brasileira.

LETÍCIA NIGRO LEME,

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