A assessoria de Dilma e Graça não quiseram comentar o depoimento. Representantes
DE SÃO PAULO
Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo, diz em vídeo que integra o seu acordo de delação que a então presidente, Dilma Rousseff (PT), e a então comandante da Petrobras, Graça Foster, sabiam que a empresa pagava propina ao PT e PMDB em contratos da estatal de petróleo.
“Tudo que eu contei para Graça eu contei para ela”, afirma Marcelo, referindo-se a Dilma.
Sem mencionar datas, Marcelo afirma que contou a Graça inicialmente que a empresa pagara propina ao PMDB e ao PT no caso de um contrato de US$ 840 milhões que foi acertado com a diretoria internacional da Petrobras em 2010, controlada por peemedebistas à época.
Ele diz que Márcio Faria, ex-diretor da Odebrecht, fez o acerto com dois líderes do PMDB: Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves.
Em sua delação, Faria afirma que Michel Temer, deputado federal à época, participou da reunião com Cunha e Alves na qual foi acertada a propina. Temer, porém, não pode ser processado enquanto estiver no exercício da Presidência, segundo a Procuradoria Geral da República.
O contrato, assinado no final da gestão de Sérgio Gabrielli em 2010, era para prestação de serviços ambientais em dez países. Como havia uma desconfiança do PT de que o PMDB levara propina nesse negócio, Graça mandou uma comissão interna da Petrobras investigar o contrato. A comissão determinou que o valor do contrato fosse reduzido para US$ 480 milhões, o equivalente a 57% do montante original. A Petrobras também mandou o resultado da investigação ao Ministério Público, e um diretor da Odebrecht começou a ser investigado, o que enfureceu Marcelo.
Ele diz que estava em Angola quando recebeu uma ligação de Graça. “Que história é essa do PAC?”, ela perguntou, segundo ele, citando a sigla que designa o serviço, PAC SMS. “A gente sabe que teve pagamento para o PMDB”, ela completou.
O então presidente do grupo disse ter procurado Márcio Faria com a seguinte dúvida: “Foi só o PMDB? Porque eu vou ter problema com a Graça”. Segundo Marcelo, Faria respondeu: “O PT sabia e também recebeu”.
O ex-presidente afirma que teve uma reunião com Graça no hotel Transamérica, em São Paulo, e disse a ela: “Não vou mentir para você. O PT sabia. Márcio me disse que Vaccari sabia e também recebeu uma parte”, citando o tesoureiro do PT à época, João Vaccari Neto.
Foi a partir desse episódio, diz Marcelo, que “começou o meu desgaste com Graça”. Houve uma troca de e-mails “pesadíssima” entre os dois, conta Marcelo, e essa correspondência chegou a Dilma. “Eu peguei esses e-mails e mandei para a presidente”.
Dilma marcou uma reunião na biblioteca do Palácio do Planalto para resolver o conflito, de acordo com Marcelo. Foi quando ele diz ter contado a Dilma o que relatara a Graça. Dilma, segundo Marcelo, estava desconfiada de que Michel Temer, seu vice, estivesse envolvido com a propina. “Ela queria saber se Michel estava envolvido”.
Marcelo pediu ao diretor da Odebrecht que cuidava da relação com políticos em Brasília, Claudio Mello Filho, para avisar Temer da desconfiança da então presidente.
Numa reunião com Edison Lobão, ministro de Minas e Energia de Dilma, Marcelo diz ter contado sobre a desconfiança de Dilma sobre Temer.
O ex-presidente diz não saber o montante do suborno ao PMDB, mas fala que os “valores envolvidos eram relevantes, R$ 10, 20 milhões”. OUTRO LADO