Cresce apoio a candidato da extrema esquerda francesa
Jean-Luc Mélenchon, que pede saída da UE, chega em terceiro em pesquisa
Tendência de alta dos últimos dias pode levar socialista ao segundo turno em campanha marcada por surpresas
Nos gráficos de intenção de voto para a eleição presidencial francesa, uma linha sobe como uma ladeira íngreme: a de Jean-Luc Mélenchon, da extrema esquerda.
Esse político veterano, que defende um referendo sobre a permanência da França na União Europeia, é uma das surpresas desta campanha pródiga em reviravoltas.
O primeiro turno será no dia 23. Se a tendência dos últimos dias se mantiver, Mélenchon poderá chegar à segunda rodada, em 7 de maio.
Mélenchon já aparece em terceiro lugar em uma pesquisa divulgada pelo instituto Ipsos no final de semana, com 18,5% dos votos. Ele superou o conservador François Fillon, dos Republicanos (centro-direita), que aparecia com 18%. Em outras sondagens, Fillon tem leve vantagem.
O bom desempenho de Mélenchon está relacionado à má performance de Fillon, cuja candidatura afundou após acusações de corrupção.
Mas não apenas a isso. Ele foi uma das estrelas dos dois debates presidenciais e reúne multidões em comícios.
Em um deles, no domingo (9), criticou seus rivais afirmando que os franceses não precisam escolher entre a extrema-direita, “que condena nosso povo a se odiar”, e os partidários do livre mercado, “que transformam o sofrimento em ouro”.
Referia-se aos dois candidatos que lideram as pesquisas: Marine Le Pen, de extrema-direita, e Emmanuel Macron, de centro, empatados com 24% das intenções. ‘INSUBMISSO’ Mélenchon, 65, deixou o Partido Socialista, do atual presidente François Hollande, em 2008 após mais de 30 anos de militância. Ele agora representa o novo movimento França Insubmissa.
Conhecido também pelas iniciais JLM, pede por uma “revolução dos cidadãos” e defende um salário mínimo de € 1.300 (R$ 4.300). Como a rival Marine Le Pen, pleiteia deixar a UE e a Otan, a aliança militar ocidental.
Com discursos inflamados, tem sugado eleitores do Partido Socialista, cuja campanha está em declínio, e mira a base centrista de Macron.
Seus comícios dos últimos meses incluíram um holograma, para discursar em dois lugares ao mesmo tempo, e uma visita surpresa a um McDonald’s, unindo-se a um protesto de trabalhadores por melhores salários.
“Ele é bastante bom com a imprensa”, disse à Folha Gilles Ivaldi cientista político do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica) francês. “As pessoas acham que ele é amigável e gostam dele. A dúvida é se o apoio será realmente traduzido em votos.”
Afinal, Mélenchon também surpreendeu nas eleições de 2012 com um rápido crescimento, lembra Ivaldi, mas o desfecho nas urnas — um quarto lugar, com 11% dos votos— decepcionou.
Independentemente do resultado no dia 23, a disputa do primeiro turno já é bastante diferente daquela prevista quando candidatos começaram a se mobilizar. “Não há nada corriqueiro nestas eleições”, afirmou Ivaldi. “Temos novos candidatos, novas dinâmicas e muita incerteza.”
Imaginava-se, por exemplo, que a disputa pudesse ser entre o presidente socialista, François Hollande, e o ex-presidente Nicolas Sarkozy, dos Republicanos.
Hollande não quis concorrer, e o candidato socialista, Benoît Hamon, com 8%, não está entre os favoritos.
Já Sarkozy perdeu as prévias conservadoras para Fillon, favorito até ser afetado pelo escândalo de corrupção.
Com cerca de 25% do eleitorado indeciso ou inclinado a se abster (o voto no país é facultativo), há espaço para surpresas. “Muitos decidirão no dia da eleição”, diz Ivaldi.