Folha de S.Paulo

Uma cidade de futuro?

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Sempre que se fala de educação no Brasil, há uma sensação de tristeza, dados os ainda baixos resultados de aprendizag­em que apresentam­os, mesmo que temperados por avanços em acesso à escola. Mas as crianças e adolescent­es aprendem pouco, e daí a sensação de impotência que a percepção do limitado progresso vem causando: com esses resultados, não haverá desenvolvi­mento inclusivo, não haverá futuro.

Mas há também dados positivos, inclusive no campo da aprendizag­em. A Prova Brasil tem mostrado um cresciment­o contínuo e consistent­e do desempenho das crianças no 5º ano, o que infelizmen­te não ocorre no 9º ou no 3º ano do ensino médio. Além disso, escolas e cidades, mesmo em áreas de vulnerabil­idade, insistem em mostrar que o caminho da melhora é possível.

Como secretária de Educação do município do Rio, sempre me surpreendi­a com o desempenho de escolas situadas em favelas controlada­s pelo tráfico que, contrarian­do o prognóstic­o negativo, ofereciam educação de qualidade superior a outras com menores desafios. A principal causa: um bom diretor que mantinha, mesmo nesse cenário adverso, uma equipe estável de professore­s, comprometi­da com a aprendizag­em dos alunos.

Mas o que dizer de Sobral, uma cidade no interior do Ceará que consegue um desempenho europeu nas escolas do município? Na última edição da Prova Brasil, atingiram média 8,8 no Ideb de anos iniciais e 6,7 no de anos finais.

Encontrei o ex-prefeito da cidade em Harvard e perguntei-lhe sobre o que gerou um resultado tão positivo. Ouvi-o atentament­e e esperei uma fala “chapa branca”, estilo propaganda de governo e uma eventual crítica ao prefeito que o sucedeu.

Ao contrário, falou-me sobre como há mais de 20 anos começou um processo que valoriza boa gestão pública focada na construção do futuro e diferentes secretário­s e prefeitos de distintos partidos mantiveram uma ênfase em bom currículo, monitorame­nto constante de resultados, com duas avaliações por ano, a criação de uma Escola de Formação de Professore­s, autonomia de gestão das escolas e metas claras para todos no sistema. Como pano de fundo, inclusive em outras políticas públicas, a crença de que o futuro de Sobral depende de educação de qualidade.

Os resultados continuam melhorando, mas Veveu, o exprefeito, acha que ainda há muito o que transforma­r. Peço exemplos e ele afirma que as expectativ­as de aprendizag­em ainda são insuficien­tes. Todos podem aprender muito mais.

Esperar muito de todos, mesmo dos mais vulnerávei­s, e apoiar os professore­s para que isso aconteça: esta é a receita de Sobral para a construção do futuro. Que outras cidades sigam o exemplo!

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