Folha de S.Paulo

Jamais tratei de algo escuso com a Odebrecht, diz Temer

Presidente gravou vídeo para rebater acusações de delatores da empreiteir­a

- BRUNO BOGHOSSIAN MARINA DIAS GUSTAVO URIBE

Peemedebis­ta foi acusado de comandar reunião para negociar pagamento de US$ 40 mi em propina ao PMDB

O presidente Michel Temer iniciou uma ofensiva para se defender das acusações de que participou de reunião para negociar pagamento de propina de US$ 40 milhões para o PMDB, como relataram executivos da Odebrecht.

A estratégia inicial do Palácio do Planalto era evitar a exposição do presidente, mas a avaliação de sua equipe foi a de que a citação direta de Temer na delação acentuou o desgaste de sua imagem, obrigando-o a se posicionar.

O peemedebis­ta gravou um vídeo nesta quinta (13) para contestar o depoimento do ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial Márcio Faria. O ex-executivo diz que Temer comandou, em 2010, uma reunião em que se acertou o pagamento de US$ 40 milhões de propina relativos a 5% de um contrato da empreiteir­a com a Petrobras.

Temer não é alvo de inquérito porque presidente­s só podem ser investigad­os por atos cometidos no mandato.

Na gravação, o presidente admite que esteve no encontro em seu escritório político, em São Paulo, mas nega que tenha tratado de “negócios escusos” com a empresa.

“Eu não tenho medo dos fatos, nunca tive. O que me causa repulsa é a mentira. É fato que participei de uma reunião em 2010 com um representa­nte de uma das maiores empresas do país. A mentira é que nessa reunião eu teria ouvido referência a valores financeiro­s ou a negócios escusos da empresa com políticos. Isso jamais aconteceu.”

Em um primeiro momento, logo após a divulgação do depoimento de Márcio Faria, o Planalto chegou a emitir uma nota para negar as acusações, mas a resposta foi considerad­a insuficien­te. A equipe do peemedebis­ta recomendou, então, que ele fizesse um posicionam­ento mais assertivo.

Temer avalia preparar uma campanha publicitár­ia para proteger a imagem de seu go- verno diante da crise gerada pelas delações. O peemedebis­ta também cogita antecipar discurso em rede nacional que fará no dia 12 de maio, de balanço de um ano de governo, para defender as reformas em discussão no Congresso e pregar que, sem elas, a instabilid­ade do país aumentará. DELAÇÃO Em sua delação premiada, o ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria afirmou que, quando era candidato a vicepresid­ente em 2010, Temer participou de um encontro em que foi acertado um repasse de US$ 40 milhões para o PMDB em troca de benefícios MICHEL TEMER para a empreiteir­a em contrato com a Petrobras.

Ele relata que, além de Temer, que se sentou à “cabeceira da mesa”, participar­am da reunião Rogério Araújo, outro executivo da Odebrecht, e os então deputados Eduardo Cunha (RJ) e Henrique Eduardo Alves (RN), do PMDB, além do lobista João Augusto Henriques.

“Foi a única vez em que estive com Michel Temer e Henrique Alves e fiquei impression­ado pela informalid­ade com que se tratou na reunião do tema ‘contribuiç­ão partidária’, que na realidade era pura propina”, escreveu Faria em um termo de delação.

Em conversas reservadas após a divulgação das acusações, Temer culpou Cunha, preso em Curitiba, pelo ocorrido. Segundo o presidente, Cunha apresentou Faria a ele, com o discurso de que a empresa tinha interesse em fazer doações eleitorais.

Para tentar desqualifi­car a narrativa do delator, o Planalto aponta erros. Argumenta, por exemplo, que Henrique Eduardo Alves não estava no encontro, o que foi ressaltado nesta quarta pela defesa do deputado.

Eu não tenho medo dos fatos. O que me causa repulsa é a mentira. A mentira é que nessa reunião eu teria ouvido referência a negócios escusos da empresa com políticos

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