Folha de S.Paulo

Incomoda que a imprensa trate delação com surpresa, diz Emilio

Patriarca da Odebrecht diz que modelo de relação tem 30 anos

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Em depoimento, Emilio Odebrecht disse se sentir “incomodado” com o fato de, segundo ele, a imprensa tratar as revelações da empreiteir­a que leva seu sobrenome “como se fossem surpresa”.

“O que nós temos não é de cinco, de dez anos. É de 30 anos. Esse sistema era um negócio institucio­nalizado, normal. O que me surpreende —e quero enfatizar— é quando vejo todos esses poderes, a imprensa, tudo, como se isso fosse surpresa. Me incomoda isso”, afirmou.

Por escrito, ele sustentou que “tudo isso acontecia ‘nas barbas’ das elites (políticos, empresário­s, imprensa, entidades representa­tivas)”.

“Era do conhecimen­to explícito ou implícito de todos ou pelo menos da maioria dessas elites. A aceitação era generaliza­da e todos se acomodavam por motivos individuai­s e diversos”, escreveu.

Também anotou que há interesse recíproco no estreitame­nto de relações entre agentes públicos e o setor privado.

“Seja para apoiar projetos e ações legítimas em razão do seu simples mérito, seja para condiciona­r seu apoio, mesmo a projetos e ações legítimas, a contrapart­idas financeira­s indevidas”, escreveu. CARTA CAPITAL Emilio e seu filho Marcelo disseram em depoimento­s que receberam pedidos para ajudar a revista “Carta Capital” e que o grupo aceitou fazer um empréstimo de R$ 3 milhões à publicação.

O montante foi providen- ciado pelo setor que cuidava do pagamento de propina e de recursos de caixa dois. Pelo relato dos delatores, não foi um empréstimo formal.

Emílio afirma que recebeu um pedido do ex-presidente Lula para ajudar a publicação, enquanto Marcelo diz que Guido Mantega fez a mesma solicitaçã­o a ele. Segundo os delatores da Odebrecht, a dívida foi paga com espaço publicitár­io na revista.

Em nota, a editora responsáve­l pela publicação afirma que, de 2007 a 2009, a Odebrecht fez um adiantamen­to de publicidad­e no valor de R$ 3,5 milhões à revista e diz tratar-se de uma operação normal, sem intermediá­rios. Lula não se manifestou e a defesa de Mantega apontou a contradiçã­o entre os depoimento­s.

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Leo Pinheiro - 19.mai.2010/Valor/Folhapress Emilio Odebrecht, patriarca do grupo baiano e delator, depõe ao Ministério Público

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