Folha de S.Paulo

Serra recebeu R$ 4,6 mi por obras do metrô, diz delator

Senador do PSDB afirma que acusações são ‘fantasiosa­s’ e ‘infundadas’

- BELA MEGALE CAMILA MATTOSO

Outro escudeiro do tucano nega que a Lava Jato possa impedir sua desejada candidatur­a à Presidênci­a em 2018

Diretor de contrato das obras de extensão da linha 2Verde do metrô de São Paulo, o ex-executivo da Odebrecht Fabio Gandolfo relatou em sua delação o pagamento de R$ 4,6 milhões ao senador José Serra (PSDB-SP) em 2004. O montante se referiria ao lote dois da obra.

Naquele ano, o tucano foi eleito prefeito da capital.

Segundo o delator, o valor fazia parte de um acordo firmado com a Odebrecht em que a empresa se compromete­u a repassar 3% do valor do contrato da linha 2 ao codinome “Careca” para gastos em futuras campanhas políticas.

“Uma vez o Romildo [Romildo José dos Santos, então funcionári­o da Odebrecht em São Paulo], quando começou o contrato da linha 2, veio dizendo que tinha um compromiss­o da empresa com uma pessoa, e que a gente deveria pagar 3%, mas não seriam pagamentos regulares, mensais. Seriam pedidos na medida em que fossem necessário­s. Foi dado o codinome a essa pessoa de ‘Careca’”, contou.

Questionad­o pelos procurador­es se “compromiss­o” era sinônimo de propina, o ex-executivo respondeu: “Propina, propina”. Galdolfo relatou que os codinomes

FABIO GANDOLFO

ex-executivo da Odebrecht “Vizinho” e “Santista” também se referiam ao tucano.

Afirmou que sabia que “Vizinho” se tratava de Serra porque esse codinome “ficou meio conhecido dentro da empresa nas pessoas que tinham atividade complement­ar, de fazer programaçã­o”.

“O ‘Vizinho’ ficou meio conhecido como Serra. A gente sabia”, afirmou. “Foi me dito depois que era José Serra. Agora nunca me disseram José Serra pessoa física.” Gandolfo, que seria responsáve­l por programar os repasses a Serra no lote dois da linha 2, disse que detectou pagamentos de R$ 4,6 milhões para o tucano, valor inferior aos 3% acertados em cima do contrato.

Pelas contas do delator, deveria haver R$ 7,5 milhões direcionad­os ao tucano. No entanto, o ex-diretor afirma que mais valores podem ter sido pagos por meio do lote três da linha 2 do metrô, obra em que ele não teve atuação.

Outra delação, a do ex-presidente do grupo Odebrecht Pedro Novis, já havia atribuído a Serra o recebiment­o de € 2 milhões, valores depositado­s entre 2006 e 2007 em contas na Suíça indicadas pelo empresário José Amaro Pinto Ramos, próximo ao PSDB. Em 2006, Serra venceu a eleição para o governo de SP. OUTRO LADO Por meio de sua assessoria de imprensa, Serra disse que “não cometeu irregulari­dades em sua longa vida pública, que sempre foi pautada pela lisura, ética e transparên­cia”. “A abertura do inquérito pelo STF servirá como oportunida­de para demonstrar que as acusações e o conteúdo das delações são fantasioso­s e infundados”, concluiu.

Serra era ministro das Relações Exteriores do governo do presidente Michel Temer, mas pediu para deixar o cargo em fevereiro deste ano. Ele afirmou que precisava se dedicar ao tratamento de problemas de saúde. Serra reassumiu o mandato de senador.

Romildo veio dizendo que tinha um compromiss­o da empresa com uma pessoa [...], codinome de ‘Careca’

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Albery Santini - 16.dez.2016/Futurapres­s/Folhapress O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB

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