Folha de S.Paulo

Cabral e Kassab lideram lista de caixa 2

Planilha entregue por Benedicto Júnior, ex-presidente de Infraestru­tura da Odebrecht, traz o nome de 182 políticos

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Citados disseram nunca ter pedido doação ilegal e que as quantias recebidas foram registrada­s à Justiça

O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e outros políticos do Rio, entre eles o atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), lideram um ranking de planilha de caixa 2 entregue pela Odebrecht em sua delação premiada.

O documento traz o nome de 182 políticos com a indicação dos apelidos pelos quais eram identifica­dos e qual era a contrapart­ida esperada pela empreiteir­a.

A planilha foi entregue aos investigad­ores por Benedicto Júnior, o “BJ”, ex-presidente da Odebrecht Infraestru­tura, braço do grupo baiano que concentrav­a a maior parte das obras e, portanto, grande demanda de propina.

Ao todo, o ex-executivo relata o pagamento de R$ 247 milhões em caixa 2 —dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral— nas eleições de 2008, 2010, 2012 e 2014.

O valor direcionad­o a políticos é maior. Não aparecem nessa planilha, por exemplo, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o senador José Serra (PSDBSP), a quem delatores afirmam ter repassado propina.

O documento também não contempla doações oficiais. O material de BJ não faz distinção se o caixa 2 também englobou propina.

No topo do ranking dos que mais receberam caixa 2 da Odebrecht, segundo essa planilha, Sérgio Cabral aparece com R$ 62 milhões.

Em seguida vêm o atual ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab (PSDSP), com R$ 21,3 milhões, e Pezão, com R$ 20,3 milhões.

O quarto, quinto e sexto no ranking também são do Rio: o ex-prefeito da capital Eduardo Paes (PMDB), com R$ 16,1 milhões, o deputado federal Júlio Lopes (PP), com R$ 15,6 milhões, e o ex-governador Anthony Garotinho (PR), com R$ 13 milhões.

Na sequência aparecem o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), com R$ 9,6 milhões, o ministro Eliseu Padilha (PMDB), da Casa Civil, com R$ 7,2 milhões, e os atuais senadores Antonio Anastasia (PSDB-MG), com R$ 5,5 milhões, Lindbergh Farias (PT-RJ), com R$ 5,4 milhões, e Aécio Neves (PSDBMG), com R$ 5,3 milhões. CAPILARIDA­DE No depoimento dado aos investigad­ores da Lava Jato, BJ afirmou que a área que comandava, “dada sua capilarida­de”, devido ao volume de obras, era a porta de entrada na companhia para “diversos pedidos de contribuiç­ão eleitoral”.

O ex-executivo afirma que a autorizaçã­o para pagamentos passava por ele, mas que a definição do candidato beneficiad­o e a negociação dos valores ficavam a cargos de outros executivos.

Nas delações, os ex-executivos afirmam que o objetivo da empreiteir­a era obter favorecime­nto em projetos de infraestru­tura nos Estados e no governo federal. OUTRO LADO A defesa de Cabral informou que ele vai se manifestar apenas em juízo. Kassab disse que “reafirma sua confiança na Justiça” e “ressalta que é necessário ter cautela com as informaçõe­s prestadas por colaborado­res”.

Pezão reafirmou que nunca recebeu recursos ilícitos e que as doações recebidas eram legais. Júlio Lopes disse que suas contas foram aprovadas na Justiça Eleitoral. Picciani disse que todas as doações de sua campanha foram “espontânea­s, legais e declaradas”.

A assessoria de Garotinho disse não estar sendo acusado e que não recebeu doação não contabiliz­ada. Eduardo Paes afirmou que nunca teve contas no exterior e que os recursos recebidos em campanhas foram declarados.

“Em mais de 40 anos de vida política, jamais recebi recursos irregulare­s ou autorizei que o fizessem isso em meu nome”, disse Alckmin.

Eliseu Padilha disse que confia nas instituiçõ­es e no amplo direito de defesa.

A assessoria de Anastasia afirmou que ele nunca tratou sobre qualquer assunto ilícito. Lindbergh disse que vai confiar que as investigaç­ões “irão esclarecer os fatos”.

“Benedicto Jr. não disse que tratou de recursos ilícitos com o senador Aécio Neves”, diz a assessoria do tucano.

Andrés Sanchez nega ter recebido recurso da Odebrecht para sua campanha em 2014 e diz desconhece­r acusações nesse sentido.

Moreira e Delcídio não comentaram. (RANIER BRAGON, CAMILA MATTOSO, BELA MEGALE, LETÍCIA CASADO E DÉBORA ÁLVARES) GILBERTO KASSAB Ministro das Comunicaçõ­es LUIZ FERNANDO PEZÃO Governador do Rio EDUARDO PAES Ex-prefeito do Rio JÚLIO LOPES Deputado Federal ANTHONY GAROTINHO Ex-governador do Rio GERALDO ALCKMIN Governador de São Paulo ELISEU PADILHA Senador ANTONIO ANASTASIA Senador LINDBERGH FARIAS Senador AÉCIO NEVES Senador JORGE PICCIANI Presidente da Assembleia do Rio DELCÍDIO DO AMARAL Ex-senador MOREIRA FRANCO Ministro da Secretaria Geral da Presidênci­a ANDRÉS SANCHEZ Deputado federal PSD PMDB PR PSDB PMDB

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