Folha de S.Paulo

Paquistanê­s usou Brasil em rota de ilegais

Sharafat Ali Khan, que vivia legalmente perto de Brasília, declarou-se culpado de tráfico humano para os EUA

- SPENCER S. HSU

Traficante disse ter levado até 99 afegãos e paquistane­ses passando por países latino-americanos

Um esquema de tráfico humano que ajudou pessoas do Paquistão e Afeganistã­o a entrar nos EUA por meio do Brasil e de outros países da América Latina foi publicamen­te revelado na quarta-feira (12).

Sharafat Ali Khan, 32, paquistanê­s com residência permanente no Brasil, confirmou a um tribunal federal em Washington que serviu como facilitado­r para dezenas de paquistane­ses que contataram ele no Brasil, pagaram de US$ 5.000 a US$ 12.000 (R$ 15,7 mil a R$ 37,8 mil) cada e, depois, andaram pela selva colombiana ou viajaram em direção aos EUA de ônibus, avião ou a pé, segundo os registros do tribunal.

Khan se declarou culpado por conspiraçã­o para fraude contra EUA e tráfico humano.

“O viajante médio levou aproximada­mente nove meses para ir do Brasil aos EUA. Durante a viagem, os estrangeir­os foram submetidos a condições severas que causaram um risco substancia­l de lesões corporais graves e morte”, diz o registro judicial.

Muitos viajaram para Turbo, no norte da Colômbia, e dali para a fronteira oriental do Panamá, onde tiveram que caminhar pela região de Darien, descrita como “uma área de floresta tropical selvagem e perigosa”.

A acusação prevê pena má- xima de cinco anos na prisão. Mas, no acordo, promotores aceitaram uma punição de três anos e um mês.

O paquistanê­s, que usou o pseudônimo “Dr. Nakib”, foi preso em 14 de julho de 2016 em Washington após ser extraditad­o do Qatar. As circunstân­cias da sua prisão não foram reveladas. ESQUEMA “Khan é um contraband­ista estrangeir­o conhecido que opera no Brasil”, disse o agente especial Frank Iervasi, da Imigração e Alfândega dos EUA, em depoimento de 3 de junho sobre a aplicação da lei que deu base à prisão de Khan em Washington.

Nos documentos de admissão de culpa, Khan e o governo dos EUA estipulam “entre 25 e 99” os indivíduos que o paquistanê­s teria trazido aos EUA entre março de 2014 e maio de 2016. A acusação alegou que Khan trabalhou com ao menos três outros conspirado­res cujas identidade­s são conhecidas por um júri.

Segundo Iervasi, gravações e comunicaçõ­es eletrônica­s deram detalhes das ativida- des, rotas, taxas, associados e métodos de pagamento.

Em depoimento, Khan disse que a rota usada na operação foi do Paquistão para Dubai, Brasil, Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador, Guatemala e México.

Segundo documentos de acusação, diversos indivíduos afirmaram que eram levados para a casa de Khan ou recebiam seu telefone.

Outra fonte disse que Khan trabalhava em um aeroporto do Brasil e que estrangeir­os o procuravam em casa.

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