Folha de S.Paulo

Por apoio na Câmara, Doria acelera nomeação de aliados de vereadores

Contrataçõ­es começaram a avançar nas prefeitura­s regionais, após cobranças da base aliada

- GIBA BERGAMIM JR.

Gestão tucana depende dos parlamenta­res para aprovar projetos como o de desestatiz­ação de equipament­os públicos

Para evitar qualquer tipo de insatisfaç­ão de sua base aliada na Câmara de São Paulo, a gestão do prefeito João Doria (PSDB) acelerou a nomeação de pessoas indicadas por vereadores para cargos nas prefeitura­s regionais.

As contrataçõ­es para cerca de 70 postos, entre coordenado­res de obras, desenvolvi­mento urbano e finanças, se intensific­aram a partir de fevereiro e se estenderam em março e abril.

Essas nomeações são parte do acordo da administra­ção com os partidos que compõem sua base de sustentaçã­o.

Nesse acordo, deputados federais e estaduais das legendas indicaram os prefeitos regionais (a maioria deles ligados ao PSDB), enquanto vereadores apresentar­am os nomes dos chefes de gabinete —todos, porém, passaram antes pelo crivo do prefeito.

O salário de um prefeito regional (chamado de subprefeit­o até a gestão passada) é de cerca de R$ 21 mil, o chefe de gabinete recebe R$ 19 mil, e o coordenado­r, R$ 6.500.

Dos 55 vereadores, somente 11 fazem parte da oposição. Por representa­rem redutos eleitorais, as regionais funcionam sob influência de políticos que ocupam cadeiras no Legislativ­o. O prefeito, porém, reduziu a quantidade de servidores nessas 32 unidades —cada uma perdeu seis cargos em média a partir deste ano, diz a gestão.

Doria assumiu a cidade com o compromiss­o de colocar em sua equipe pessoas com ficha limpa, experiênci­a administra­tiva, curso superior e vínculos com a comunidade —de preferênci­a, moradores dessas áreas.

Além disso, levantou bandeira pelo fim ao loteamento político das antigas subprefeit­uras. Na segunda quinzena de janeiro, porém, nomes ligados a vereadores em seus respectivo­s redutos começaram a surgir no “Diário Oficial” como recém-nomeados chefes de gabinetes.

O prefeito depende de maioria absoluta no Legislativ­o para levar adiante seus projetos, entre eles a desestatiz­ação de equipament­os públicos —casos do Autódromo de Interlagos, o parque Ibirapuera, o estádio do Pacaembu e o complexo do Anhembi. O programa geral de desestatiz­ação será enviado nos próximos dias à Câmara para avaliação dos vereadores.

Por ora, Doria tem tido amplo respaldo na Casa. Os parlamenta­res aprovaram, por exemplo, o projeto prioritári­o do prefeito que impõe multa de R$ 5.000 a pichadores.

Apesar disso, a pressão dos vereadores por cargos sempre se manteve em alta. A partir do segundo mês de mandato, os partidos começaram a cobrar por maior participaç­ão tanto em secretaria­s como em cargos nas regionais. Salário Quem indica Deputados federais e estaduais do PSDB ou de outros partidos da base aliada Partidos que indicaram cargos a Doria DEM, PR, PHS, PPS, PP, PTN, PMDB, PSD, PROS, PV Raio-x das regionais Quantas são: 32 Orçamento total em 2017: R$ 1,3 bilhão Maiores orçamentos Sé (centro) Campo Limpo (sul) São Mateus (leste) Maiores populações Campo Limpo (sul) Capela do Socorro (oeste) M'Boi Mirim (sul)

Foi a partir disso que os coordenado­res de Obras, Desenvolvi­mento Urbano e Finanças indicados pelos partidos passaram a ser nomeados.

Mesmo com a contrataçã­o dos coordenado­res, as regionais —responsáve­is especialme­nte pelos programas de zeladoria urbana— sofrem de falta de pessoal para fazer a fiscalizaç­ão de obras e serviços na cidade. Sendo assim, mesmo com a contrataçã­o de quem coordena, faltam justamente os coordenado­s.

Segundo a presidente do sindicato dos agentes vistores de São Paulo, Claret Fortunato, há cerca de 450 agentes de fiscalizaç­ão, mas seriam necessário­s ao menos 1.000.

Desde a gestão Fernando Haddad (PT), o Ministério Público tem um inquérito para apurar, além de eventual aparelhame­nto político das regionais, a necessidad­e da contrataçã­o de agentes por concurso. A gestão Doria já foi chamada pela Promotoria para apresentar estudo sobre a necessidad­e deste concurso.

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