Folha de S.Paulo

Com limite de 80 km/h, ‘marginais coreanas’ ficam entre Haddad e Doria

- ALENCAR IZIDORO

Bem em frente ao hotel cinco estrelas onde se hospeda desde quarta (12) em Seul, o prefeito João Doria (PSDB) tem vista privilegia­da do rio Han e das vias expressas urbanas no seu entorno.

Com mais de 1 km de largura —“Han” significa largo—, esse icônico rio que corta a capital coreana está para o Tietê de São Paulo como as vias no seu entorno estão para as marginais paulistana­s.

O critério adotado por Seul para definir os limites de velocidade das vias, no entanto, não representa um aval nem para a opção do tucano nem para a de seu antecessor, Fernando Haddad (PT).

As máximas permitidas nessas expressas são de 80 km/h, apesar de elas serem isoladas de interferên­cias adjacentes. Ou seja, Seul adotou uma opção intermediá­ria entre os 70 km/h implantado­s em São Paulo pela gestão petista, em 2015, e os 90 km/h que as marginais Pinheiros e Tietê passaram a aceitar em 25 de janeiro deste ano, conforme promessa eleitoral de Doria.

“Como qualquer motorista, os coreanos também gostam de andar rápido. Mas olha essas câmeras, uma atrás da outra”, observa Sung Chang Lee, taxista que acompanha a reportagem ao percorrer uma das marginais de Seul. A sinalizaçã­o na via é ostensiva, com a velocidade máxima pintada no asfalto.

Também chamam a atenção os painéis eletrônico­s ao longo das faixas, com informaçõe­s do trânsito enviadas de uma central da prefeitura.

Joonho Ko, doutor em sistemas de transporte e diretor do setor de pesquisas do Instituto Seul, ligado ao governo metropolit­ano, conta que o padrão de 80 km/h costuma ser adotado na Coreia do Sul para as vias expressas que atravessam grandes cidades.

“Quando elas se afastam da malha urbana, podem ter um padrão rodoviário, com limite de 100 km/h”, afirma.

Para reduzir as vítimas do trânsito, a Prefeitura de Seul definiu a meta de implantar a máxima de 30 km/h em todas as zonas residencia­is da cidade até 2030.

Na capital paulista, mesmo após a queda das mortes em acidentes viários nos últimos dois anos, a taxa de óbitos por 100 mil habitantes é próxima de oito. Na capital coreana, ela fica pouco acima de três.

O governo local, ainda assim, tem metas ambiciosas para a redução drástica das vítimas, com a política de redução de velocidade e ampliação de espaço para pedestres.

Em 2015, Seul teve 340 mortes no trânsito, mas pretende registrar no máximo 200 em 2021 e 100 em 2031.

Para o secretário de Transporte­s, Sérgio Avelleda, a gestão não pode “comentar sobre medidas adotadas em Seul sem conhecer os projetos de via nem a legislação vigente na Coreia do Sul”.

“O Programa Marginal Segura [de Doria] vai muito além da readequaçã­o da velocidade e foi responsáve­l pela implantaçã­o de uma série de ações para segurança, sinalizaçã­o e educação no trânsito.”

O número de atendiment­os a vítimas de acidentes pelo Samu nas marginais Tietê e Pinheiros triplicou após o aumento das velocidade­s implantado por Doria. MINHOCÃO Um exemplo de valorizaçã­o do espaço para pedestres em detrimento da circulação de carros foi visitado por Doria nesta quinta (13). Com a demolição de uma via elevada como o Minhocão de São Paulo, as margens do rio Cheonggyec­heon foram revitaliza­das e a água, despoluída, o que favorece passeios a pé.

Após visitar a região, porém, Doria repetiu que, “neste momento”, a decisão da prefeitura é pela não demolição do Minhocão paulistano. Por outro lado, planeja uma revitaliza­ção do elevado, ampliando a área verde, ainda neste ano. “Hoje a demolição seria uma atitude sem respaldo de investimen­to”, disse.

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Alencar Izidoro/Folhapress Vias expressas com limite de 80 km/h no entorno do rio Han

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