Médico ignora ofensas e risco de rebaixamento pela saúde de atleta
Em jogo decisivo, funcionário do Santo André tira lateral de campo após choque na cabeça
DE SÃO PAULO
Trinta e três minutos do segundo tempo. Derrotado por 1 a 0 pelo Audax, o Santo André tem pouco mais de doze minutos para buscar o empate para escapar do rebaixamento para a Série A2 do Paulista, segunda divisão do Estadual. É a última rodada da primeira fase do Campeonato Paulista de 2017, em 29 de março.
Distraído pela bola viajando no ar e pelo desespero de quem queria reverter a derrota, Paulinho sai em disparada e choca-se de cabeça com adversário. Cai desengonçado, seco, se retorcendo na grama. O médico do clube Fábio Novi vê de longe: o lateral esquerdo convulsiona.
“Ele teve um trauma crânioencefálico. Em um caso como esses, é pior que um golpe que um boxeador leva na cabeça. As velocidades dos jogadores se somam e o impacto é enorme”, afirma o médico.
A cena do lateral de 22 anos caído com os olhos esbugalhados mexe de maneira incômoda com a memória, lembrando de desfechos trágicos de jogadores nos gramados em um passado recente, por motivos variados.
À beira do gramado, Fábio Novi tenta colocar o colar cervical em Paulinho. Sem sucesso.
O jogador resiste, quer voltar a campo. Os companheiros gritam “vamos, guerreiro”, pedindo para que o lateral retorne. A equipe de arbitragem autoriza o seu retorno.
“Eu vi que ele não estava em condição de jogar. Estava desorientado, perguntando coisas como ‘o jogo já co- meçou, doutor? Ih, estamos perdendo’. Em um trauma como esses, o cérebro faz esforço para esquecer o que aconteceu e a pessoa fica agitada”, afirma Novi.
Imediatamente, ao ver o jogador em campo, o médico tomou a decisão: o Santo André, com as três substituições já feitas, terá que se virar com dez atletas.
Inconformado e grogue, Paulinho xinga Novi.
“Eu não lembro de nada depois da pancada. Só me lembro de acordar na ambulância”, afirma à Folha.
Duas semanas depois do ocorrido, ele hoje defende o