Folha de S.Paulo

De São Paulo para Brasília?

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Frente à vala comum em que caíram os políticos mais tradiciona­is, o prefeito João Doria tem aparecido como uma tábua de salvação do campo conservado­r para enfrentar Lula, a jararaca que resiste no ambiente inóspito em que se transformo­u a política brasileira.

A visibilida­de de São Paulo faz do seu prefeito um candidato nato a cargos mais elevados, mas a história mostra que o caminho direto entre a prefeitura e a Presidênci­a não só não é óbvio como nunca ocorreu. Apenas o vazio de lideranças pode levar à ilusão de que um recém-empossado prefeito paulistano, que ainda não mostrou a que veio fora um marketing pessoal eficiente, chegará serenament­e a Brasília.

Desde a criação do cargo, em 1899, apenas dois ex-prefeitos de São Paulo se tornaram presidente­s: Washington Luís, (prefeito entre 1914 e 1919 e presidente em 1926) e Jânio Quadros (prefeito entre 1953 e 1955 e presidente em 1961). Antes de chegarem ao mais alto cargo da República, bateram ponto por quatro anos no governo do Estado e, triste coincidênc­ia, deixaram a Presidênci­a tragicamen­te, um deposto pela revolução de 1930 e o outro após tentar o golpe da renúncia.

A maioria sonhou, mas ficou no meio do caminho: Ademar, Maluf, Covas e Serra foram derrotados em pleitos presidenci­ais; Prestes Maia, Reinaldo de Barros e Maluf perderam eleições para governador, enquanto Olavo Setubal e Marta Suplicy nem sequer conseguira­m legenda partidária para entrar nessa disputa. Marta, Erundina, Maluf e Serra fracassara­m nas várias vezes em que tentaram voltar à prefeitura.

Essa trajetória dá razão à afirmação do ex-prefeito Fernando Haddad: “São Paulo é um cemitério de políticos”.

Para gerir uma das cidades mais complexas do mundo, enfrentand­o seus reais problemas, Doria precisa mostrar mais do que fantasias de trabalhado­r braçal, nomes pomposos de programas fictícios, bravatas contra pichadores, viagens internacio­nais e doações empresaria­is, um tanto suspeitas. Isso pode garantir momentânea popularida­de, mas é efêmero.

O tímido e descostura­do Programa de Metas que apresentou para São Paulo não é uma boa credencial para um político que parece pretender governar um país em crise. Voltaremos a ele.

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