Cunha diz que Temer agendou reunião direto com Odebrecht
Em nota que escreveu da prisão, ex-deputado contesta versão de peemedebista
Presidente havia dito que não organizou encontro em 2010 em que, segundo delatores, foi discutida propina
Em nota escrita do complexo penal onde está preso, no Paraná, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) deu sequência ao enfrentamento com Michel Temer e questionou parte da versão do presidente sobre reunião durante a campanha de 2010 em que, segundo delatores da Odebrecht, foi acertado pagamento de propina ao PMDB.
Em entrevistas recentes, Temer tentou se distanciar do episódio. Primeiro, disse que o encontro aconteceu a partir de um pedido de Cunha.
“[Em 2010], o Eduardo Cunha diz: ‘Há uma pessoa que quer colaborar, mas quer cumprimentá-lo’. E ajustamos um dia em que eu estava em São Paulo”, disse o presidente à Band, no sábado.
Nesta segunda-feira (17), ao SBT, Temer voltou ao tema e disse que nem sequer sabia o nome do executivo com quem se encontraria.
Na nota, Cunha escreve que “o presidente se equivocou nos detalhes” e que a reunião foi “agendada diretamente com ele [Temer]”.
“A referida reunião não foi por mim marcada. O fato é que estava em São Paulo, juntamente com [o ex-deputado e ex-ministro] Henrique Alves e almoçamos os três juntos no restaurante Senzala, ao lado do escritório político dele, após outra reunião e fomos convidados a participar dessa reunião já agendada diretamente com ele.”
Procurado, o Palácio do Planalto não se posicionou. A defesa de Henrique Alves afirmou que ele mantém a versão de que “não se fazia presente em dita reunião”.
De acordo com os dois delatores — Rogério Araújo e Márcio Faria — participaram da reunião, além da dupla, Temer, Cunha, Alves e o lobista João Augusto Henriques.
A dupla relata que Temer comandou o encontro e que nela se acertou o pagamento de US$ 40 milhões de propina a membros do PMDB relativos a 5% de um contrato da Odebrecht com a Petrobras.
Temer confirma a existência da reunião, realizada em seu escritório político em São Paulo, mas nega que nela tenham sido discutidos valores ou acertos escusos.
Na nota, Cunha reforça essa parte da versão de Temer e diz que na reunião “não se tratou de valor nem [se fez] referência a qualquer contrato daquela empresa”.
“A conversa girou sobre a possibilidade de possível doação e não corresponde a verdade o depoimento do executivo”, escreveu.
Condenado em março por Sergio Moro a 15 anos e quatro meses de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas, Cunha tem usado sua relação com Temer para constranger o presidente.
Em duas ocasiões, o peemedebista o incluiu como testemunha em processos de que é alvo e lhe enviou questionamentos sobre episódios como a reunião em questão.
Na decisão em que o condenou, Moro criticou a ação e disse que, com ela, Cunha provavelmente tentou provocar “alguma espécie de intervenção indevida” de Temer.
Na entrevista ao SBT, o presidente disse não temer uma possível delação premiada de Cunha. E aproveitou para ressaltar qualidades do antigo aliado. “Ele foi um deputado muito atuante, eficiente no exercício da legislatura.” IMPEACHMENT Na mesma nota, o ex-deputado refutou outra afirmação de Temer: a de que Cunha, então presidente da Câmara, lhe contou ter aberto o processo de impeachment contra Dilma Rousseff por retaliação à decisão do PT de votar por sua cassação.
De acordo com Cunha, a conversa existiu, mas serviu para discutir a decisão de iniciar o processo de deposição.
“O verdadeiro diálogo ocorrido sobre o impeachment com o então vice-presidente foi submeter a ele o parecer que aceitava o impeachment”, escreveu Cunha.