Folha de S.Paulo

PT pedirá CPI em SP para apurar obras tucanas

- REYNALDO TUROLLO JR.

A ministra Cármen Lúcia, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), e o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato, decidiram montar uma espécie de força-tarefa para tentar acelerar os casos relacionad­os à Lava Jato.

Será criado um grupo de trabalho para reforçar a equipe que cuida dos processos contra políticos.

Na semana passada, Fachin determinou a abertura de 76 inquéritos no STF, vinculados à delação de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht. No total, 98 pessoas são alvos dessas investigaç­ões.

O volume de informaçõe­s causa preocupaçã­o no Supremo e na Procurador­ia-Geral da República, interessad­a em dar celeridade aos casos.

Ainda não está decidido quantas pessoas farão parte dessa equipe de assessoria, que deve contar com funcionári­os de outras áreas do tribunal, possivelme­nte assessores e juízes.

A presidente do Supremo e Fachin decidiram tomar a iniciativa depois que o “Painel” informou que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) estava decidida a pressionar o tribunal a convocar juízes auxiliares para apoiar o relator nos processos da Lava Jato.

O ministro Fachin conta hoje com três juízes em seu gabinete: Ricardo Rachid, Camila Pentz e Paulo Farias. Eles já foram designados para atuar nos 76 inquéritos da Lava Jato abertos pelo ministro na semana passada.

Um desses juízes, Paulo Farias, trabalhava com ministro Teori Zavascki, morto em acidente aéreo em 19 de janeiro e que era o relator da operação.

O material da Odebrecht fez triplicar o volume de casos da Lava Jato no tribunal —eram 37 investigaç­ões, por exemplo, e agora são 113.

Antes de assumir a relatoria, Fachin já era o responsáve­l também por cinco ações penais da Lava Jato no STF. FORO PRIVILEGIA­DO A expectativ­a no tribunal é que a presidente Cármen Lúcia coloque na pauta de maio uma ação que discute a restrição do alcance do foro privilegia­do no Supremo —é incerto se a decisão pode atingir os casos da Operação Lava Jato.

O ministro Luís Roberto Barroso é o relator do caso, que envolve a prerrogati­va dada a deputados, senadores e ministros.

Para Barroso, se o fato imputado ao parlamenta­r foi cometido antes do mandato, não há justificat­iva para que seja julgado no STF.

“Se o fato imputado, por exemplo, foi praticado anteriorme­nte à investidur­a no mandato de parlamenta­r federal, não se justificar­ia a atribuição de competênci­a ao STF”, diz trecho do despacho assinado pelo ministro.

A discussão vai se dar sobre uma ação penal contra o ex-deputado Marquinhos Mendes nas eleições municipais de 2008.

Ele virou deputado federal em 2015 e o caso foi remetido ao Supremo Tribunal Federal, quando ele assumiu como suplente.

Em outubro de 2016 Men- des venceu a eleição para a prefeitura de Cabo Frio (RJ), e o caso deveria descer para o TRF (Tribunal Regional Federal). Mas, como já estava pronto para ser julgado, Barroso decidiu seguir com o assunto.

Para o ministro, o vaivém de instâncias contribui com a lentidão do sistema judiciário e a prescrição dos crimes.

Barroso diz que há 357 inquéritos e 103 ações penais em tramitação no Supremo. A corte conta com 11 ministros.

O ministro Fachin por exemplo, cuida de mais de 4 mil processos, além da Operação Lava Jato.

A oposição ao governo Geraldo Alckmin (PSDB) na Assembleia Legislativ­a de São Paulo vai apostar numa eventual fragilidad­e da base, que teve quatro deputados citados nas delações da Odebrecht, para pedir a instalação de uma CPI para investigar obras da empreiteir­a no Estado.

Entre as obras citadas estão a linha 2-verde do Metrô, o Rodoanel Sul e a rodovia Carvalho Pinto, todas de governos tucanos e que teriam gerado repasses ao senador José Serra e ao ministro Aloysio Nunes (Relações Exteriores).

Alckmin também foi citado por suposto recebiment­o de caixa dois.

Tradiciona­lmente, a oposição não consegue emplacar CPIs na Assembleia. São necessária­s 32 assinatura­s para a abertura de uma CPI. O PT tem 15 deputados e o PSOL, 2.

Para o líder do PT na Casa, porém, o clima mudou com as delações. “Agora é diferente, a base fica sob suspeita [se recusar a CPI]. Por qual razão não vão querer investigar?”, disse Alencar Santana Braga.

Quatro deputados da base foram citados pela Odebrecht, todos por suposto caixa dois em 2010: o líder do governo, Barros Munhoz (R$ 50 mil), o líder do PSDB, Roberto Massafera (R$ 30 mil), o expresiden­te da Assembleia Fernando Capez (R$ 100 mil) e o líder do PTB, Campos Machado (R$ 50 mil).

Na oposição, o petista João Paulo Rillo também foi citado por supostamen­te ter levado R$ 500 mil em 2012, quando se candidatou a prefeito no interior. Todos negam o caixa dois.

O PT discute nesta terça (18) a proposta de CPI.

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Alan Marques/Folhapress A presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, que montou força-tarefa para a Lava Jato

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