Folha de S.Paulo

Cartes diz que não concorrerá no Paraguai

- DANIEL AVELAR

O presidente do Paraguai, Horacio Cartes, anunciou nesta segunda (17) que não buscará um novo mandato nas eleições do ano que vem.

“Espero que esse gesto sirva para aprofundar o diálogo direcionad­o ao fortalecim­ento institucio­nal da República, em convivênci­a harmônica entre os paraguaios”, disse Cartes em carta.

Apesar disso, líderes do governista Partido Colorado afirmaram que seguirão tentando aprovar no Congresso um controvers­o projeto de emenda à Constituiç­ão que abriria caminho para a reeleição por meio de plebiscito.

A oposição reagiu ao anúncio de Cartes com cautela. Ele já havia afirmado em outras ocasiões que não buscaria um novo mandato, mas isso não impediu que seu governo tentasse legalizar a reeleição.

O Paraguai mergulhou em uma crise política após o Senado aprovar em 31 de março a emenda da reeleição, em uma manobra denunciada pela oposição como “golpe”.

Após a aprovação da medida, que segue em tramitação na Câmara, houve protestos violentos que deixaram o Congresso parcialmen­te incendiado e um líder opositor morto pela polícia. Reuniões de negociação para resolver o impasse fracassara­m.

A tentativa de alterar a Constituiç­ão para permitir a reeleição não é a única polêmica em que Cartes, 60, se envolveu nos últimos anos.

Magnata da indústria do tabaco e do sistema bancário, o presidente nomeou funcionári­os de seu conglomera­do para cargos oficiais, sendo acusado de conflitos entre interesses públicos e privados. CONTRABAND­O Cartes é fundador e maior acionista da Tabacalera del Este, principal produtora de cigarros do Paraguai. Suas marcas são encontrada­s em carregamen­tos de contraband­o apreendido­s em diversos países, inclusive no Brasil.

Além disso, o empresário é alvo de várias acusações. Nos anos 1980, o ele foi preso por evasão de divisas e, em 2011, o Wikileaks revelou que os EUA investigav­am suas relações com um esquema internacio­nal de narcotráfi­co e lavagem de dinheiro.

Para concorrer à Presidênci­a, Cartes precisou convencer líderes do Partido Colorado a mudar o estatuto da sigla, derrubando a regra que exigia de eventuais candidatos ao menos dez anos de militância pela legenda.

Com o empresário, o Partido Colorado conseguiu retornar em 2013 à Presidênci­a, da qual estava afastado desde 2008. Antes disso, a sigla governou o Paraguai por 61 anos ininterrup­tos, incluindo o período da ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-89).

“Os antecedent­es do presidente não contribuem para gerar uma sensação de tranquiali­dade”, diz à Folha o jornalista e biógrafo do presidente, Chiqui Ávalos

Cartes nega quaisquer irregulari­dades. Procurado pela Folha por meio de sua assessoria, o presidente se recusou a conceder entrevista­s.

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Dolores Ochoa - 21.nov.2014/Associated Press Horacio Cartes é alvo de acusação de conflito de interesse

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