Cartes diz que não concorrerá no Paraguai
O presidente do Paraguai, Horacio Cartes, anunciou nesta segunda (17) que não buscará um novo mandato nas eleições do ano que vem.
“Espero que esse gesto sirva para aprofundar o diálogo direcionado ao fortalecimento institucional da República, em convivência harmônica entre os paraguaios”, disse Cartes em carta.
Apesar disso, líderes do governista Partido Colorado afirmaram que seguirão tentando aprovar no Congresso um controverso projeto de emenda à Constituição que abriria caminho para a reeleição por meio de plebiscito.
A oposição reagiu ao anúncio de Cartes com cautela. Ele já havia afirmado em outras ocasiões que não buscaria um novo mandato, mas isso não impediu que seu governo tentasse legalizar a reeleição.
O Paraguai mergulhou em uma crise política após o Senado aprovar em 31 de março a emenda da reeleição, em uma manobra denunciada pela oposição como “golpe”.
Após a aprovação da medida, que segue em tramitação na Câmara, houve protestos violentos que deixaram o Congresso parcialmente incendiado e um líder opositor morto pela polícia. Reuniões de negociação para resolver o impasse fracassaram.
A tentativa de alterar a Constituição para permitir a reeleição não é a única polêmica em que Cartes, 60, se envolveu nos últimos anos.
Magnata da indústria do tabaco e do sistema bancário, o presidente nomeou funcionários de seu conglomerado para cargos oficiais, sendo acusado de conflitos entre interesses públicos e privados. CONTRABANDO Cartes é fundador e maior acionista da Tabacalera del Este, principal produtora de cigarros do Paraguai. Suas marcas são encontradas em carregamentos de contrabando apreendidos em diversos países, inclusive no Brasil.
Além disso, o empresário é alvo de várias acusações. Nos anos 1980, o ele foi preso por evasão de divisas e, em 2011, o Wikileaks revelou que os EUA investigavam suas relações com um esquema internacional de narcotráfico e lavagem de dinheiro.
Para concorrer à Presidência, Cartes precisou convencer líderes do Partido Colorado a mudar o estatuto da sigla, derrubando a regra que exigia de eventuais candidatos ao menos dez anos de militância pela legenda.
Com o empresário, o Partido Colorado conseguiu retornar em 2013 à Presidência, da qual estava afastado desde 2008. Antes disso, a sigla governou o Paraguai por 61 anos ininterruptos, incluindo o período da ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-89).
“Os antecedentes do presidente não contribuem para gerar uma sensação de tranquialidade”, diz à Folha o jornalista e biógrafo do presidente, Chiqui Ávalos
Cartes nega quaisquer irregularidades. Procurado pela Folha por meio de sua assessoria, o presidente se recusou a conceder entrevistas.