Sabesp estuda gerir destino do lixo na Grande São Paulo
Objetivo é cuidar dos mananciais e produzir energia para a própria companhia
Ideia da empresa ainda está em fase inicial e ocorre em momento de respiro financeiro após a crise de 2014 e 2015
Empresa de água e esgoto do governo paulista, a Sabesp estuda agora ampliar sua área de atuação e começar a tratar também da destinação de lixo na Grande São Paulo.
A ideia, segundo o presidente Jerson Kelman, é que a empresa possa diminuir o impacto do lixo causado nos aterros sanitários da região metropolitana e, ao mesmo tempo, obtenha energia a partir da queima do material.
Essa energia seria usada pela própria Sabesp dentro dos processos de tratamento de esgoto. No ano passado, por exemplo, a empresa gastou R$ 935 milhões com despesas de energia elétrica.
“Isso é uma ideia ainda incipiente. Hoje, principalmente o destino do lixo é um problema grave no país. [Com essa ideia] podemos não transportar o lixo por grandes distâncias e aproveitar um combustível que é renovável”, disse Kelman à reportagem.
Atualmente as grandes cidades do país gastam muito e emitem poluentes ao transportar para os lixões ou aterros sanitários distantes dos centros urbanos. “Poder resolver o problema perto de onde as pessoas moram, co- mo acontece em Paris, é uma solução possível e técnica.”
Em Paris, três estações são responsáveis por beneficiar e incinerar o lixo produzido por uma população de cerca de 6 milhões de habitantes da região metropolitana. O calor do processo gera energia elétrica e vapor que aquece as casas.
Essa nova ideia da Sabesp ocorre em um momento de respiro da companhia. Em 2014 e 2015, a empresa ligada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB) esteve com suas atenções quase que 100% voltadas à crise da água no Estado, com reservatórios à beira de um colapso e diferentes pontos da Grande SP submetidos a um duro sistema de racionamento.
Nesse período de estiagem, a companhia vendeu menos água e viu seu lucro despencar. Em 2016, após dois anos abaixo de R$ 1 bilhão, o lucro finalmente fechou em patamares “normais” —R$ 2,9 bi. AMBIENTE No caso do lixo, o presidente da Sabesp defende que, sob o ponto de vista ambiental, a incineração é mais viável do que a construção de aterros sanitários. A ideia de Kelman é de que as usinas ou estações de tratamento de lixo sejam dotadas de filtros atmosféricos para não poluírem o céu da cidade, assim como no exemplo francês.
Também nos planos do presidente, as estações poderiam ainda ter a capacidade de incinerar o lodo gerado durante o tratamento de água e de esgoto da empresa.
Atualmente, esse rejeito é dispensado em um tipo de aterro específico. Após determinado tempo, o chorume do material é devolvido à Sabesp, que o trata para descarte.
Isso ocorre inclusive em estações de tratamento de esgoto na Baixada Santista, no litoral sul de SP, que têm que ser transportados pela serra do Mar até o planalto paulista e ser despejado em aterros.
Mas, se fosse incinerado, poderia render energia à empresa. Para esse passo, no entanto, é preciso ampliar os estudos na companhia. Por isso, a empresa pretende investir em tecnologia para gerar energia a partir do lodo.
Um dos projetos é o de que a Sabesp possa cobrar, em nome de prefeituras paulistas, a taxa de lixo. Em contrapartida, a empresa investiria na destinação final do lixo.
A ideia é construir usinas de incineração do lixo coletado na cidade próximo às atuais estações de tratamento de esgoto. Para o plano, no entanto, devem ser criadas novas instalações.
A nova lei de saneamento, de 2007, abriu essa brecha às empresas de água e esgoto. A Sabesp mudou seu estatuto e, na prática, está apta a ações também na área de drenagem e resíduos sólidos —no caso dos lixos, precisaria seguir o trâmite do licenciamento ambiental no Estado, por meio da Cetesb. Se a ideia avançar, a Sabesp terá de fazer um comunicado formal ao mercado.
construídas perto das atuais estações de tratamento de esgoto da empresa
> Combustível que hoje é usado para transportar o lixo por grandes distâncias seria aproveitado nas estações
> Lixo seria queimado e produziria energia elétrica, que seria usada pela própria Sabesp no tratamento de água e esgoto
Usinas seriam dotadas de filtros atmosféricos para não poluir o céu da cidade
> Uma das propostas é que Sabesp cobre uma taxa de lixo das prefeituras OQUEDIZALEI A Política Nacional de Resíduos Sólidos, que virou lei em 2010, fixou prazo de 4 anos para a extinção dos lixões no país; como cerca de 3.000 cidades não cumpriram a lei até 2014, um novo projeto em discussão na Câmara prevê a ampliação do prazo para 2021