Os valores da nova classe trabalhadora
A ascensão pelo trabalho e o sucesso pelo mérito combinam-se a valores mais coletivistas relacionados ao Estado e à inclusão social
A emergência de uma nova classe trabalhadora é permeada por especificidades nem sempre bem observadas, como revela a mais recente pesquisa da Fundação Perseu Abramo sobre a periferia de São Paulo.
No passado, a formação da classe trabalhadora industrial brasileira também havia sido demarcada por singularidades, sobretudo se comparada à europeia. Em geral, a transição da servidão para a condição de operário industrial significou regressão social, acompanhada de estranhamento e polarização, com revoltas e a construção do novo sindicalismo europeu.
No Brasil saído do trabalho forçado em 1888, a mão de obra que servia à escravidão foi substituída pela imigração branca proveniente de vários países. A exclusão aberta à população trabalhadora brasileira prevaleceu até a década de 1930, quando a lei dos 2/3 obrigou as empresas instaladas no país a contratar mão de obra nacional.
Nesse sentido, os brasileiros que saíram do campo para constituir a classe urbana foram exemplos de certa mobilidade ascensional.
Diante do predomínio de micro e pequenas empresas até a instalação do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, a percepção e os valores dos trabalhadores industriais a res- peito do conflito capital-trabalho eram contidos, sendo a elevação do custo de vida nas grandes cidades o principal tema de greves.
Sem a negociação coletiva, dominava a cultura do dissídio protagonizada pela Justiça do Trabalho. Mas com a presença crescente das grandes empresas, na segunda metade da década de 1950, o conflito capitaltrabalho se instalou imediatamente, embora fosse abandonado por força do autoritarismo da ditadura militar.
Somente na segunda metade dos anos 1970, com o processo de abertura democrática, tal debate voltou a ganhar maior relevância.
No final do século 20, com a desindustrialização instalada e o avanço dos serviços, uma nova classe trabalhadora passou a manifestar percepções e valores diversos.
O salto na condição de miserabilidade desprovida de cultura prévia do emprego regular e remuneração estável prevaleceu como ascensão social para grande parcela dos empregados de serviços que encontrou ocupação no período de 2003 a 2014.
Deve-se levar em conta também que tanto o predomínio de micro e pequenas empresas no setor de serviços como as técnicas mais subjetivas de gestão tendem a subverter a lógica da relação capital-trabalho.
Não parece aceitável, assim, a mera comparação entre trabalhadores industriais e os do setor de serviços.
Estes últimos parecem possuir características específicas: defendem o empreendedorismo, mas apoiam intervenções do Estado; defendem a moralidade tradicional, mas estão atentos às liberdades individuais; percebem sua ascensão como fruto do esforço individual, mas sabem que precisam contar frequentemente com alguma rede de solidariedade e laços fraternos.
Estão dispostos a encontrar sua sociabilidade pelo consumo, sobretudo o de bens duráveis como eletrodomésticos e eletroeletrônicos.
A ascensão pelo trabalho e o sucesso pelo mérito combinam-se com os valores mais coletivistas relacionados à atuação do Estado e à ampliação da inclusão social.
Esse novo caldo exigirá renovações tanto na forma quanto no conteúdo das políticas públicas. MARCIO POCHMANN
Assim como um menino de 12 anos se viu diante de um professor ateu, outros se viram diante de professores fanáticos por religião ou outra coisa qualquer. O que resolve o problema da brutalidade e da insensibilidade é uma boa administração pedagógica, atenta, presente e efetiva. E isso só se resolve com o intenso respeito às figuras do professor e do aluno. Interferência estranha, ainda mais de cunho ideológico, só cria confusão e mal-estar.
MARIA JOSÉ FERRAZ DO AMARAL
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Anos atrás, descobri a morte de um amigo ao ler o obituário da Folha. Vi que, além de política, economia etc., havia um local especial para distinguir a vida de pessoas que foram relevantes não só para a família mas para a sociedade. A partir de então, passei a lê-lo todos os dias. O texto “Dentista e professor, fez de tudo pelos filhos” (“Cotidiano”, 18/4), muito bem escrito, revela o alto nível do jornalista Thiago Amâncio, que tratou com carinho e competência a história do dentista e professor Ovídio Simon, um exemplo de homem bom, pai e amigo.
IVO BOSAJA SIMON