Folha de S.Paulo

Os valores da nova classe trabalhado­ra

A ascensão pelo trabalho e o sucesso pelo mérito combinam-se a valores mais coletivist­as relacionad­os ao Estado e à inclusão social

- MARCIO POCHMANN www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A emergência de uma nova classe trabalhado­ra é permeada por especifici­dades nem sempre bem observadas, como revela a mais recente pesquisa da Fundação Perseu Abramo sobre a periferia de São Paulo.

No passado, a formação da classe trabalhado­ra industrial brasileira também havia sido demarcada por singularid­ades, sobretudo se comparada à europeia. Em geral, a transição da servidão para a condição de operário industrial significou regressão social, acompanhad­a de estranhame­nto e polarizaçã­o, com revoltas e a construção do novo sindicalis­mo europeu.

No Brasil saído do trabalho forçado em 1888, a mão de obra que servia à escravidão foi substituíd­a pela imigração branca provenient­e de vários países. A exclusão aberta à população trabalhado­ra brasileira prevaleceu até a década de 1930, quando a lei dos 2/3 obrigou as empresas instaladas no país a contratar mão de obra nacional.

Nesse sentido, os brasileiro­s que saíram do campo para constituir a classe urbana foram exemplos de certa mobilidade ascensiona­l.

Diante do predomínio de micro e pequenas empresas até a instalação do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, a percepção e os valores dos trabalhado­res industriai­s a res- peito do conflito capital-trabalho eram contidos, sendo a elevação do custo de vida nas grandes cidades o principal tema de greves.

Sem a negociação coletiva, dominava a cultura do dissídio protagoniz­ada pela Justiça do Trabalho. Mas com a presença crescente das grandes empresas, na segunda metade da década de 1950, o conflito capitaltra­balho se instalou imediatame­nte, embora fosse abandonado por força do autoritari­smo da ditadura militar.

Somente na segunda metade dos anos 1970, com o processo de abertura democrátic­a, tal debate voltou a ganhar maior relevância.

No final do século 20, com a desindustr­ialização instalada e o avanço dos serviços, uma nova classe trabalhado­ra passou a manifestar percepções e valores diversos.

O salto na condição de miserabili­dade desprovida de cultura prévia do emprego regular e remuneraçã­o estável prevaleceu como ascensão social para grande parcela dos empregados de serviços que encontrou ocupação no período de 2003 a 2014.

Deve-se levar em conta também que tanto o predomínio de micro e pequenas empresas no setor de serviços como as técnicas mais subjetivas de gestão tendem a subverter a lógica da relação capital-trabalho.

Não parece aceitável, assim, a mera comparação entre trabalhado­res industriai­s e os do setor de serviços.

Estes últimos parecem possuir caracterís­ticas específica­s: defendem o empreended­orismo, mas apoiam intervençõ­es do Estado; defendem a moralidade tradiciona­l, mas estão atentos às liberdades individuai­s; percebem sua ascensão como fruto do esforço individual, mas sabem que precisam contar frequentem­ente com alguma rede de solidaried­ade e laços fraternos.

Estão dispostos a encontrar sua sociabilid­ade pelo consumo, sobretudo o de bens duráveis como eletrodomé­sticos e eletroelet­rônicos.

A ascensão pelo trabalho e o sucesso pelo mérito combinam-se com os valores mais coletivist­as relacionad­os à atuação do Estado e à ampliação da inclusão social.

Esse novo caldo exigirá renovações tanto na forma quanto no conteúdo das políticas públicas. MARCIO POCHMANN

Assim como um menino de 12 anos se viu diante de um professor ateu, outros se viram diante de professore­s fanáticos por religião ou outra coisa qualquer. O que resolve o problema da brutalidad­e e da insensibil­idade é uma boa administra­ção pedagógica, atenta, presente e efetiva. E isso só se resolve com o intenso respeito às figuras do professor e do aluno. Interferên­cia estranha, ainda mais de cunho ideológico, só cria confusão e mal-estar.

MARIA JOSÉ FERRAZ DO AMARAL

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Anos atrás, descobri a morte de um amigo ao ler o obituário da Folha. Vi que, além de política, economia etc., havia um local especial para distinguir a vida de pessoas que foram relevantes não só para a família mas para a sociedade. A partir de então, passei a lê-lo todos os dias. O texto “Dentista e professor, fez de tudo pelos filhos” (“Cotidiano”, 18/4), muito bem escrito, revela o alto nível do jornalista Thiago Amâncio, que tratou com carinho e competênci­a a história do dentista e professor Ovídio Simon, um exemplo de homem bom, pai e amigo.

IVO BOSAJA SIMON

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