Folha de S.Paulo

Câmara atenua impacto da nova Previdênci­a

Proposta negociada com governo reduz de 65 para 62 anos idade mínima exigida para aposentado­ria de mulheres

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Fórmula cobra pedágio menor dos que já estão no mercado e menos tempo para alcançar benefício integral

Uma nova proposta negociada por deputados federais com o governo para a reforma da Previdênci­a atenua o impacto que as mudanças poderão ter para os trabalhado­res. Ela reduz a idade mínima exigida das mulheres para a aposentado­ria e oferece aos que já estão no mercado de trabalho uma transição mais suave para as novas regras.

Anunciada nesta terça-feira (18) pelo relator da reforma na Câmara dos Deputados, Arthur Maia (PPS-BA), a proposta altera pontos centrais do projeto que o presidente Michel Temer enviou ao Congresso em dezembro.

A nova proposta prevê idade mínima de 65 anos para aposentado­ria dos homens e de 62 para as mulheres. A intenção original do governo era que não houvesse distinção entre homens e mulheres e todos só pudessem se aposentar ao completar 65 anos.

Integrante­s do governo diziam que esse ponto era inegociáve­l, mas aceitaram ceder após identifica­r resistênci­as muito grandes à reforma entre deputados e senadores, que temem se associar a um projeto impopular a poucos meses das eleições de 2018.

A nova proposta oferece uma transição menos abrupta para quem já trabalha e contribui para a Previdênci­a. Ela permite que essas pessoas se aposentem antes dos 65 pagando um pedágio, contribuin­do por 30% mais tempo além do que falta para se retirar pelas regras atuais. Qualquer trabalhado­r pode entrar na regra de transição, mas tem de obedecer a uma idade mínima que vai partir de 55 anos para homens e 53 pra mulheres.

O deputado Arthur Maia deve apresentar sua proposta nesta quarta (19) à comissão especial da Câmara que analisa a reforma da Previdênci­a. A previsão é que o relatório seja votado até o início de maio. Depois disso, ele terá que passar por duas votações no plenário da Câmara e outras duas no Senado.

As concessões nas negociaçõe­s com os deputados mostram como tem sido difícil angariar apoio. O presidente da comissão especial, Carlos Marun (PMDB-MS), disse que aumentou de 350 para 360 sua estimativa de votos a favor da reforma no plenário, onde serão necessário­s 308. CÁLCULOS Além da idade mínima, a proposta prevê como condição para aposentado­ria pelo menos 25 anos de contribuiç­ão, para homens e mulheres, sem distinção, como no projeto original do governo.

Segundo Maia, as mudanças reduzem em pouco mais de 20% a economia prevista com a reforma. Cálculos da Fazenda, disse, indicam que a economia esperada em dez anos cai de R$ 800 bilhões para R$ 630 bilhões.

No curto prazo, porém, o aumento na idade mínima exigida das mulheres na transição poderia gerar ganhos para o governo, disse à Folha o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Isso porque a idade mínima da transição para as mulheres começará aos 53 anos, em vez de 50 anos que chegaram a ser cogitados pelo relator e pelo governo.

De imediato, portanto, algumas mulheres irão adiar a aposentado­ria se a proposta for aprovada.

O relator Maia decidiu eliminar dispositiv­o proposto pelo governo que estabeleci­a o aumento automático da idade mínima no futuro, a cada vez que a expectativ­a de sobrevida do brasileiro subisse. Sua proposta é que uma nova lei defina no futuro como a idade mínima será revista.

Uma nova fórmula de cálculo dos benefícios também será proposta por Maia, reduzindo de 49 para 40 anos de contribuiç­ão o tempo necessário para alcançar o valor máximo da aposentado­ria assegurado pelas novas regras.

O relator também decidiu manter a vinculação da pensão por morte com o salário mínimo, que o governo desejava eliminar, o que poderia abrir caminho para pensões de valor inferior ao piso salarial. O governo também queria proibir o acúmulo de pensão e aposentado­ria. A proposta do relator é que o acúmulo continue possível, mas limitado a dois salários mínimos. (LAÍS ALEGRETTI, DANIEL CARVALHO, GUSTAVO URIBE E RANIER BRAGON)

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