Folha de S.Paulo

Perdas e ganhos

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Quando deixou o cargo de ministro da Casa Civil, Antônio Palocci se recusou a abrir a lista dos clientes de sua consultori­a para a então presidente Dilma Rousseff. Preferiu deixar o governo e retomar o mandato de deputado federal.

Hoje, os procurador­es da Lava Jato esperam que o ex-ministro de Dilma entregue para eles o que não explicou para a ex-presidente. Todo o resto já interessa pouco. Delatores da Odebrecht contaram que Palocci foi o gestor da conta abastecida pela empreiteir­a com propina e que serviu para pagar despesas de Lula e do PT.

A consultori­a do ex-ministro atendeu um dos maiores bancos do país, uma das maiores fabricante­s de veículos, uma importante empresa de planos de saúde e um frigorífic­o. Esses quatro clientes concentrar­am a maior parte dos ganhos de Palocci.

Pessoas que conhecem essa história afirmam que a proximidad­e do ex-ministro com Lula e Dilma e sua articulaçã­o no Congresso viabilizar­am medidas provisória­s que favorecera­m seus clientes.

O estrago dessa possível delação será maior que a dos executivos da Odebrecht ou a de Eduardo Cunha? Quando Nelson Mello delatou esquemas da Hypermarca­s, as ações da companhia caíram, mas rapidament­e ultrapassa­ram o patamar inicial. Na semana passada, a Bolsa registrou queda considerad­a “normal” com as delações da Odebrecht.

Como na política, o mercado é leniente. Para Temer, que só tem a economia como salvação, o estrago não virá das delações e sim da reforma previdenci­ária. Essa é a visão de banqueiros e operadores de mercado.

Caso o texto aprovado permita uma economia de pelo menos 60% dos gastos públicos nessa área, Temer conseguirá “entregar” uma taxa básica de juros de 8,5%. Isso já seria suficiente para fazer planos para 2018, se o presidente escapar da Lava Jato. Abaixo dos 60%, as fichas do empresaria­do seguirão ao presidenci­ável que se dispuser a reformar a reforma de Temer.

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