Folha de S.Paulo

Muita propina, pouca gente

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RIO DE JANEIRO - A chamada linha 4 do metrô do Rio é um grande engodo desde seu nome, que faz crer que a cidade tem uma rede metroviári­a quando, na verdade, tem apenas uma conexão entre dois extremos, com parcas ramificaçõ­es.

A primeira encarnação dessa obra é de 1998, quando houve uma licitação, vencida por uma concession­ária formada por três empresas e liderada pela Queiroz Galvão. Um contrato de R$ 880 milhões, que não foi executado por falta de recursos. Em 2010, Sérgio Cabral decidiu que tocar a linha 4 seria um ótimo negócio —nas palavras do delator Benedicto Júnior, ex-executivo da Odebrecht, “o negócio mais expressivo que construímo­s no Rio”. A Rio-2016 justificav­a.

Em vez de fazer nova licitação, o então governador reativou o contrato de 1998 e aceitou incontávei­s aditivos e alterações. Dentre elas, a entrada da Odebrecht, que comprou a participaç­ão de um dos sócios do consórcio original.

Resultado: o preço subiu para R$ 9,6 bilhões e a linha 4 passou a gerar propinas que faziam parte da mesada que Cabral recebia das empreiteir­as. Só com a obra do metrô o atual presidiári­o recebeu R$ 36 milhões, segundo o mesmo delator.

Além de ter sido superfatur­ada para abastecer “a organizaçã­o criminosa capitanead­a por Sérgio Cabral durante sua gestão do Estado do Rio”, nas palavras do Ministério Público Federal, a linha 4 do metrô vem se revelando subutiliza­da. Reportagem do jornal “O Globo” mostrou que em vez dos 300 mil usuários por dia previstos no estudo técnico de demanda, ela recebe em média 140 mil/dia.

Tão escandalos­a quanto a confirmaçã­o de que o empreendim­ento foi corrompido e tem utilidade questionáv­el é a informação de que o governador Luiz Fernando Pezão e o prefeito Marcelo Crivella discutem ampliar a linha. Talvez estejam procurando uma saída subterrâne­a para a crise. marco.canonico@grupofolha.com.br

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