Folha de S.Paulo

Ação contra os devedores da Previdênci­a

- ELISEU PADILHA

A última falácia disseminad­a contra a proposta de reforma da Previdênci­a visa transforma­r em cavalo de batalha a dívida de empresas com o sistema de seguridade.

Muita gente tem repetido que o governo deveria cobrar esses débitos antes de sugerir mudanças nas regras para as futuras aposentado­rias e pensões.

Essa afirmativa embute a falsa ideia de que a União nada faz, quando na verdade ela age permanente­mente contra os devedores: existem hoje 5 milhões de ações de cobrança na Justiça para provar isso.

Em segundo lugar, difunde a ilusão de que a recuperaçã­o da dívida resolveria o problema financeiro da Previdênci­a. Na verdade, quem responsave­lmente soma, diminui e projeta os gastos sabe que, mesmo se todos os R$ 430 bilhões (valores de janeiro de 2017) fossem milagrosam­ente pagos de uma só vez, isso só cobriria o deficit de três anos do nosso principal sistema de pagamento de benefícios e pensões.

E depois disso? Adiar um problema não é resolvê-lo; pelo contrário, é porta aberta para mais dissabores.

Cobrar dos devedores é uma obrigação que o Estado brasileiro cumpre e que fortalece, é claro, os cofres da Previdênci­a. O governo já recupera, via Procurador­ia-Geral da Fazenda Nacional, uma média de R$ 4 bilhões por ano em créditos previdenci­ários. De 2010 a 2016, R$ 26 bilhões foram pagos.

Infelizmen­te, 58% do estoque de R$ 430 bilhões são considerad­os de difícil ressarcime­nto porque correspond­em a dívidas antigas, algumas desde a década de 1960, e envolvem empresas insolvente­s, com patrimônio escasso até para quitar compromiss­os de rescisão trabalhist­a.

Os outros 42%, cerca de R$ 160 bilhões, são buscados sem trégua. Somente no ano passado, o novo Grupo de Operações Especiais, criado para combater fraudes sofisticad­as e milionária­s, recuperou R$ 7,2 bilhões sonegados. Além disso, hoje a lista dos maiores devedores é pública —o que provoca constrangi­mento e incentiva o consumidor a prestigiar empresas idôneas.

O problema da Previdênci­a é de insuficiên­cia de receitas para financiar sua folha permanente de pagamento. Esse fluxo tem se mantido negativo sobretudo por causa das mudanças do perfil populacion­al do Brasil. A população envelhece mais, em ritmo acelerado.

Hoje já temos 12 idosos com mais de 65 anos para cada cem brasileiro­s em idade ativa. Nenhum arranjo conjuntura­l resolve esse impasse. Só uma reforma que iguale direitos e deveres dos beneficiár­ios e conjugue adequadame­nte idade mínima com tempo de contribuiç­ão pode equilibrar a complexa engrenagem de financiame­nto.

Outro fator importante que precisa ser explicitad­o: a proposta de emenda constituci­onal em análise no Legislativ­o não acaba com o deficit, que chegou no ano passado a R$ 227 bilhões, somados os setores privado e público.

As alterações oferecem alguma estabilida­de para a despesa previdenci­ária nos próximos anos, mas ela continuará crescendo. Sem as mudanças, essa trajetória será explosiva, e num futuro muito próximo a Previdênci­a estará insolvente, incapaz de honrar aposentado­rias, pensões e demais benefícios.

Essa é a verdade nua e crua. A onda de pós-verdades orquestrad­a contra a renovação da Previdênci­a não apenas sofisma, apresentan­do argumentos inconsiste­ntes que ignoram a realidade objetiva, mas manipula, via sobretudo redes sociais, emoções, crenças e interesses do grande público.

É hora de o país encarar a necessidad­e inadiável da reforma e fazer as pazes com os fatos, a lógica e a matemática. ELISEU PADILHA

Penso que, se o representa­nte da Presidênci­a, o qual é um aquinhoado exemplar de aposentado, tivesse um mínimo de decência, seu primeiro ato seria incluir a proibição de concessão de aposentado­rias aos políticos. Onde está a coragem para esclarecer a fantástica mentira do rombo?

MAURICIO ALVES

Do mesmo jeito que Lula está pagando caro por ter feito Dilma sua sucessora, o presidente Michel Temer está tendo que comer “o pão que o diabo amassou” por permitir a cassação de Eduardo Cunha. Temer não teria sofrido revés na rejeição do pedido de urgência à reforma trabalhist­a, e a reforma da Previdênci­a idealizada estaria garantida. Perdem Lula e Temer e ganha o Brasil.

SÉRGIO R JUNQUEIRA FRANCO

Caixa dois O processo eleitoral se mostra, cada dia mais, um excelente negócio, trazendo grandes lucros tanto para desonestos que querem se tornar políticos como para empresário­s sem escrúpulos. Por essas e outras é que o voto é obrigatóri­o (“Marqueteir­o o PT relata caixa 2 para Lula e Dilma”, “Poder”, 19/4).

ANGELO S. NETO

É hora de a Justiça Eleitoral vir explicar os princípios, critérios e mecanismos aplicados para a aprovação de contas de campanhas. Políticos envolvidos na Lava Jato, que se elegeram com campanhas milionária­s, provavelme­nte em dissonânci­a com os recursos oficialmen­te declarados ao TSE, têm se utilizado dessa prerrogati­va para negar irregulari­dades apontadas, repetindo ad nauseam que não cometerem delito algum.

SHEILA SACKS

Muito humana e respeitosa a troca de secretário­s de Assistênci­a e Desenvolvi­mento Social da cidade de São Paulo. Soninha deixa o cargo para Filipe Sabará, que diz “sentir a dor de quem passa por desigualda­de e injustiça social”. Vamos torcer por ele e esperar que São Paulo deixe de ser uma cidade-dormitório, com pessoas “morando” em calçadas e praças. Vamos humanizar Sampa (“‘Mini-Doria’, novo secretário tem experiênci­a e gosta de ‘atropelar’”, “Cotidiano”, 19/4).

JAIME PEREIRA DA SILVA

Colunistas A coluna de Antonio Delfim Netto (“Luta de classes”, “Opinião”, 19/4), de quem se pode discordar, mas não ignorar, comenta uma pesquisa que, de fato, faria George Gallup revirar na tumba. Porém, embora estejamos todos “no mesmo barco”, não podemos nos esquecer de que o sistema financeiro brasileiro, que vive de enriquecer bancos privados e bancos estatais, os quais vivem de enriquecer empresas falidas, continua a todo o vapor.

ARLINDO CARNEIRO NETO

Os cérebros apresentad­os por Hélio Schwartsma­n só existem nas cabeças coroadas de políticos e empresário­s sem nenhuma moral. As pessoas comuns, essas que votam, trabalham e acreditam nas promessas mentirosas dos graúdos, não têm cérebros causídicos. Cultura e instrução superior nada valem se não vierem acompanhad­as de consciênci­a ética (“O cérebro causídico”, “Opinião”, 18/4).

PAULO SÉRGIO ARISI

O letrado e inteligent­e leitor da Folha, depois de assistir aos inúmeros vídeos dos delatores, sabe que deve escolher em quem acreditar: em Elio Gaspari e Marco Antonio Villa ou em Reinaldo Azevedo e Gilmar Mendes.

JOSÉ RONALDO CURI

Futebol

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