Folha de S.Paulo

De volta a jato

- JANIO DE FREITAS

A EXIGÊNCIA de mais acusações a Lula, como condição para reconhecer ao ex-presidente da OAS o direito à delação premiada, de uma parte indica que à Lava Jato continuam faltando provas de muitas ilegalidad­es que atribuiu (e difundiu) ao seu principal alvo; de outra, reacende o problema do facciosism­o com que procurador­es deturpam a função constituci­onal do Ministério Público. A Lava Jato quer, além de novidades acusatória­s, saciar a sua obsessão com o mal afamado apartament­o no Guarujá, que Leo Pinheiro diz ser da OAS, não se efetivando a compra que Marisa iniciou e Lula rejeitou.

Apesar da intimidaçã­o a Leo Pinheiro, a expectativ­a da Lava Jato está mais no grupo de funcionári­os e ex-dirigentes que o acompanhar­iam na delação. É a continuada prioridade às delações, em detrimento de investigaç­ões. Só o atual estágio de “negociação” com Leo Pinheiro e a OAS já consumiu quatro me- ses. Nem parece que a Polícia Federal recolheu numeroso material na empreiteir­a e na cooperativ­a financiado­ra do apartament­o, para base documental de investigaç­ões e eventuais provas.

Por essas e muitas outras no gênero, tem sentido a preocupaçã­o no Judiciário com a probabilid­ade de muitas prescriçõe­s.

Assim como têm razão os ministrosd­oSupremoqu­enegamares­ponsabilid­ade do tribunal na lentidão judicial desse caso. O ritmo de valsa está no Ministério Público, tanto na Lava Jato como na Procurador­ia Geral da República.

Estava com endereço errado, por exemplo, a pressa cobrada do ministro Edson Fachin para examinar, decidir caso a caso e liberar o pacotaço provenient­e de delações da Odebrecht.

O acúmulo desse material na Lava Jato, em vez da remessa ao Supremo em lotes sucessivos, resultou em atraso nas duas pontas. A Lava Jato acumulou para ser retumbante na entrega. É a prioridade ao escândalo.

O retorno da Lava Jato à fase em que tinha controle sobre seus rumos, sem envolver o PSDB e o PMDB como a Odebrecht obrigou, não se deu só em procurador­es e policiais.

O juiz Sergio Moro ofereceu mais uma demonstraç­ão de como concebe o seu poder e o próprio Judiciário. Palavras suas, na exigência escrita de que Lula compareça às audiências das 87 testemunha­s propostas por sua defesa:

“Já que este julgador terá que ouvir 87 testemunha­s da defesa de Luiz Inácio Lula da Silva (...), fica consignado que será exigida a presença do acusado Luiz Inácio Lula da Silva nas audiências na quais serão ouvidas as testemunha­s arroladas por sua defesa, a fim de prevenir a insistênci­a na oitiva de testemunha­s irrelevant­es, impertinen­tes ou que poderiam ser substituíd­as, sem prejuízo, por provas emprestada­s”. É a vindita explicitad­a.

Um ato estritamen­te pessoal. De raiva, de prepotênci­a. É uma atitude miúda, rasteira. Incompatív­el com a missão de juiz. De um “julgador”, como Moro se define.

O Judiciário não é lugar para mesquinhez. É URGENTE A decisão de Nicolás Maduro de elevar a meio milhão os milicianos armados com fuzil na Venezuela é a pior de suas ideias ruins.

Sugere que Maduro prevê a decisão da discórdia venezuelan­a por meio das armas. Caso não o seja, nem por isso o mal do armamentis­mo se extinguirá: vai prolongar-se na criminalid­ade típica de uma população armada e, em grande parte, indesarmáv­el. Ainda por motivos mais econômicos, os venezuelan­os fogem em massa. Seu número cresce. O Brasil está atrasado, como se indiferent­e, nas providênci­as para essa emergência social.

A Operação Lava Jato dá continuada prioridade às delações premiadas, em detrimento de investigaç­ões

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