Folha de S.Paulo

Temer ignora proposta de gravar reuniões em gabinete presidenci­al

Medida de transparên­cia fora cogitada pelo próprio peemedebis­ta após crise com Geddel

- GUSTAVO URIBE DANIEL CARVALHO AMANDA NOGUEIRA

Ex-ministro da Cultura registrou conversa com presidente; Planalto diz que ideia ainda está sob análise do GSI

O presidente Michel Temer não adotou medida de transparên­cia proposta publicamen­te por ele mesmo de gravar as audiências promovidas no gabinete presidenci­al.

A ideia foi sugerida em novembro durante discurso presidenci­al, como resposta à crise protagoniz­ada pelos exministro­s Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Marcelo Calero (Cultura), que pediram demissão do governo federal dias antes.

Segundo a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, o presidente não está gravando as audiências porque o tema ainda está em análise no GSI (Gabinete de Segurança Institucio­nal) da Presidênci­a e, por isso, ele não tomou uma decisão.

Calero deixou o governo após acusar, em entrevista à Folha, Geddel de pressionál­o a produzir parecer técnico para viabilizar empreendim­ento no qual o chefe da Secretaria de Governo tinha apartament­o na Bahia. Geddel negou as acusações, mas a crise levou à sua demissão uma semana depois.

Para provar a pressão, Ca- lero gravou conversas com Geddel, com o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e com o próprio presidente, que chamou a iniciativa de “agressiva” e “clandestin­a”.

“Acho de uma indignidad­e absoluta alguém meter um gravador no bolso para gravar outrem, não é? Até dizem que isso já tem sido admitido, mas eu pessoalmen­te, não”, disse Temer à época.

Em entrevista dois dias depois da saída de Geddel, o presidente afirmou que considerav­a pedir ao GSI que gravasse as audiências no gabinete presidenci­al.

“Estou pensando em pedir ao GSI que grave —e aí, publicamen­te, não é clandestin­amente— as audiências do presidente. Para que todos possam dizer o que possam dizer, e que eu possa dizer aquilo que devo dizer.” ‘LIMONADA’ ainda avaliava a hipótese, mas que a ideia era arquivar as conversas por “20 ou 30 anos”, realizando uma “depuração dos costumes” e fazendo de um limão uma “limonada institucio­nal”.

“Eu, talvez, aproveitan­do essa gravação clandestin­a, ilógica, agressiva, desarrazoa­da, talvez deste limão nós façamos uma limonada institucio­nal, fazendo com que as audiências públicas do presidente da República sejam todas gravadas”, afirmou.

No telefonema gravado por Calero, cujo áudio ele entregou à Polícia Federal, Temer disse ter sido “inconvenie­nte” com o então ministro ao insistir para que ele permaneces­se no cargo após o contratemp­o com Geddel.

“Quero pedir minha demissão e quero que o senhor aceite, por gentileza, porque eu não me vejo mais com condições e espaço de estar no governo”, afirmou Calero.

“Se é sua decisão, tem que respeitar. Ontem, acho que até fui um pouco inconvenie­nte, né? Insistindo muito para você para você permanecer. Confesso que não vejo razão pra isso, mas você terá as suas razões”, respondeu Temer.

Em dezembro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse não ver indícios suficiente­s para pedir abertura de inquérito para investigar Temer e Padilha. As suspeitas contra Geddel foram remetidas para a Procurador­ia da República no Distrito Federal.

DE SÃO PAULO

A TV Cultura afirmou, em nota enviada à Folha , que censurou parte da apresentaç­ão da banda Aláfia no programa “Cultura Livre” para “evitar polarizaçõ­es”.

Na atração, o grupo fez críticas ao prefeito de São Paulo, João Doria, e ao governador paulista, Geraldo Alckmin. Ambos são do PSDB.

Administra­da pelo governo de São Paulo, a TV Cultura disse ter cortado o trecho para “não difundir ideias ou fatos que incentivem a polarizaçã­o, independen­temente do indivíduo a quem esse discurso se destina”. A emissora afirmou ainda que não utiliza “programaçã­o de arte e cultura para fins partidário­s”.

“Liga nas de cem que trinca/ Nas pedra que brilha/ Na noite que finca as garra/ SP é fio de navalha/ O pior do ruim/ Doria, Alckmin/ Não encosta em mim, playboy/ Eu sei que tu quer o meu fim”, dizia o trecho retirado na edição.

Procurada pela Folha ,a apresentad­ora do “Cultura Livre”, Roberta Martinelli, afirmou que só continuará no canal se tiver liberdade de expressão. “Eles se compromete­ram a não interferir em nada.”

“Existe polarizaçã­o política e questões que a gente vive no Brasil, mais canções de protesto vão surgir, não vai dar para a gente impedir”, disse.

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Alan Marques - 22.nov.2016/Folhapress Geddel Vieira Lima, que chefiou Secretaria do Governo e caiu após denúncia de colega

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