Folha de S.Paulo

Fox News demite sua maior estrela após denúncias de assédio

Cinco mulheres receberam total de US$ 13 milhões para não levar adiante queixas sobre o apresentad­or de TV

- MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

Âncora havia recebido apoio de Trump; caso ocorre um ano após escândalo envolvendo ex-chefe da emissora

A Fox News, canal de notícias que lidera a audiência em seu setor na TV a cabo dos Estados Unidos, demitiu sua principal estrela, o apresentad­or e comentaris­ta político Bill O’Reilly.

O afastament­o foi anunciado nesta quarta (19) depois que se tornaram públicas acusações sobre assédio sexual e revelações de que o âncora de 67 anos firmou acordos milionário­s para evitar processos judiciais.

A saída de O’Reilly, que estava afastado para uma viagem à Itália supostamen­te já prevista, deixa o canal numa situação incômoda. O ex-presidente da emissora, Roger Ailes, já havia sido demitido no ano passado na sequência de um escândalo de assédio sexual. Pouco depois, em janeiro, a emissora perdeu outra estrela, Megyn Kelly, que acusou Ailes de assediá-la.

O substituto de O’Reilly será Tucker Carlson, 47, jornalista e polemista de direita que já contribuiu com diversas publicaçõe­s e começou a trabalhar para a emissora em 2009. A QUEDA No início do mês, o jornal “The New York Times” publicou reportagem na qual apontava cinco mulheres que receberam de O’Reilly ou da empresa um total de US$ 13 milhões para não levar adiante causas na Justiça. Dois desses casos ganharam novos detalhes, mas já haviam sido divulgados antes.

Com suas opiniões nacionalis­tas e conservado­ras, o âncora, que começou no canal em 1996, atraía grande audiência para seu “O’Reilly Factor”, às 20h e às 23h dos dias de semana.

O programa atraiu bilhões de dólares para a Fox News, que pertence ao empresário do setor de comunicaçõ­es Rupert Murdoch e tem como empresa-mãe a 21st Century Fox.

Amigo de longa data de Donald Trump, o âncora recebeu palavras de apoio do presidente americano quando o caso veio à tona. “Eu não acredito que Bill tenha feito alguma coisa errada”, declarou Trump, que também já sofreu acusações de assédio.

A família Murdoch procurou inicialmen­te contornar a situação, mas a posição do apresentad­or tornou-se insustentá­vel. Depois de uma investigaç­ão contratada pelos proprietár­ios da emissora e diante da debandada de dezenas de anunciante­s, O’Reilly não resistiu.

Divulgado o rompimento, ele destacou sua contribuiç­ão para tornar a Fox News líder de audiência e voltou a negar as alegações levantadas contra ele.

Considerou “desalentad­ora” a separação, que teria sido causada, segundo ele, por acusações “completame­nte infundadas”, e afirmou que essa é a “triste realidade” que tem atingido pessoas públicas nos dias de hoje.

As mulheres que se declararam assediadas pelo âncora faziam parte de sua equipe ou tiveram participaç­ão no programa. Os relatos dão conta de supostos abusos verbais, comentário­s obscenos e tentativas de contato físico indesejado —além de telefonema­s, de acordo com depoimento­s colhidos pelo “New York Times”, em que O’Reilly parecia masturbar-se.

O apresentad­or teria usado sua influência para prometer apoio e ascensão profission­al às mulheres, sugerindo que poderia prejudicál­as caso não cedessem às suas insinuaçõe­s. A empresa e O’Reilly, segundo versões, decidiram seguir o caminho dos acordos financeiro­s mesmo consideran­do que alguns casos não seriam graves. A ideia era evitar a repercussã­o que o assunto ganharia se fosse levado aos tribunais.

Apesar das turbulênci­as, a Fox News manteve na semana passada sua duradoura posição de liderança, com média diária de 1,5 milhões de espectador­es —e 2,4 milhões no horário nobre.

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Richard Drew - 1.out.2015/Associated Press Bill O’Reilly, que levou audiência à Fox News com opiniões conservado­ras e nacionalis­tas

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