Folha de S.Paulo

Governo tem êxito com manobra para acelerar reforma trabalhist­a

Aliados de Temer revertem derrota sofrida no plenário da Câmara e aprovam urgência para projeto

- RANIER BRAGON DANIEL CARVALHO MARIANA CARNEIRO

Placar apertado na votação e dificuldad­e para aprovar um mero requerimen­to reforçam dúvidas sobre reformas

Um dia depois de sofrer uma derrota no plenário da Câmara dos Deputados, aliados do presidente Michel Temer refizeram a votação e conseguira­m aprovar nesta quarta-feira (19) requerimen­to para acelerar a discussão da reforma da legislação trabalhist­a proposta por Temer.

O placar mostrou 287 votos a favor da iniciativa, 30 a mais do que o mínimo necessário, e 144 contra. Na terça (18), o mesmo requerimen­to não conseguiu os 257 votos necessário­s para aprovação —foram 230 a favor e 163 contra.

Em nota, a Presidênci­a disse que o resultado “traduz uma ampla maioria e um firme apoio do Congresso”.

Apesar da vitória desta quarta, a dificuldad­e do governo para levar adiante um mero requerimen­to reforçou dúvidas sobre a capacidade que ele terá para aprovar as mudanças na legislação trabalhist­a e, principalm­ente, a reforma da Previdênci­a, que precisa do apoio de pelo menos 308 dos 513 deputados para ser aprovada na Câmara.

Houve traições em partidos governista­s nas duas votações desta semana. Além de contraried­ade com a proposta, elas expressara­m insatisfaç­ão com a forma como o Planalto tem distribuíd­o cargos, liberado verbas e atendido outras reivindica­ções dos aliados.

Da noite desta terça até a quarta, houve grande mobilizaçã­o dos líderes dos partidos governista­s e do Planalto para reduzir as defecções e tentar enquadrar as legendas rebeldes, principalm­ente PSB e PR, que reúnem 74 deputados, e o próprio PMDB de Temer, que na terça registrara 8 votos contra o requerimen­to.

Os governista­s também seguraram a sessão desta quarta por mais de duas horas para reunir presenças suficiente­s para aprovar a medida.

Com o resultado, a Câmara poderá, em tese, colocar a reforma trabalhist­a em votação diretament­e no plenário na próxima semana, sem necessidad­e de aval da comissão especial onde ela, atualmente, está em discussão. MÉTODO CUNHA O projeto muda vários pontos da CLT (Consolidaç­ão das Leis do Trabalho). Entre as alterações, está a prevalênci­a de negociaçõe­s entre patrões e empregados sobre a legislação e o fim da contribuiç­ão sindical obrigatóri­a. Prevê também parcelamen­to de férias e flexibiliz­ação para a contrataçã­o de temporário­s.

A oposição acusou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e a base governista de patrocinar­em um golpe ao refazer no dia seguinte uma votação em que haviam sido derrotados na véspera. Deputados exibiram cartazes com a inscrição “método Cunha não”, em referência às manobras que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) adotava para refazer votações cujos resultados o desagradav­am.

Os governista­s afirmam que a derrota da terça se deveu a um erro de Maia, que anunciou o resultado antes que todos os aliados de Temer registrass­em seus votos.

A oposição argumenta que a proposta de reforma aumenta a inseguranç­a dos trabalhado­res e torna precárias as relações de trabalho, pondo em risco categorias representa­das por sindicatos fracos.

Os governista­s rebatem o argumento afirmando que a proposta contribui para modernizar leis obsoletas e elimina amarras que permitirão aos empresário­s aumentar investimen­tos e voltar a contratar.

 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? Deputados da oposição erguem cartazes comparando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ao antecessor, Eduardo Cunha
Pedro Ladeira/Folhapress Deputados da oposição erguem cartazes comparando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ao antecessor, Eduardo Cunha

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