Folha de S.Paulo

Astrônomos descobrem nova ‘Superterra’

Planeta rochoso pouco maior que a Terra e em zona habitável aumenta a lista dos alvos para a busca de vida

- SALVADOR NOGUEIRA

Cientistas esperam descobrir mais sobre o planeta com o James Webb, satélite que a Nasa lançará em 2018 FOLHA

A busca por sinais de vida fora do Sistema Solar acaba de ganhar um ótimo reforço, com a descoberta de um mundo rochoso, um pouco maior que a Terra, orbitando na zona habitável de sua estrelamãe, localizada a cerca de 40 anos-luz daqui.

A pequena LHS 1140, na constelaçã­o austral da Baleia, é uma anã vermelha com cerca de 15% da massa do nosso Sol. E agora os astrônomos descobrira­m que ela tem um planeta com diâmetro 40% maior que o da Terra —uma “Superterra”—, que completa uma volta ao redor dela a cada 25 dias.

O que deixa os pesquisado­res empolgados é que sua distância “modesta” permitirá a sondagem da atmosfera do planeta com a próxima geração de telescópio­s, no espaço e em solo, a começar pelo James Webb, satélite que a Nasa pretende lançar em 2018.

A ideia é que futuros equipament­os, mais sensíveis, possam observar a estrela no momento em que o planeta passar à frente dela. Com isso, parte da luz atravessar­ia a borda da atmosfera planetária, carregando uma “assinatura” dos gases presentes.

“Estamos agora fazendo os cálculos para ver exatamente o que poderíamos detectar com o James Webb e possivelme­nte com o Giant Magellan Telescope, que está sendo construído no Chile”, disse à Folha Jason Dittmann, pesquisado­r do Centro HarvardSmi­thsonian para Astrofísic­a, nos Estados Unidos, e primeiro autor da descoberta, publicada na revista “Nature”.

“Esperamos ser sensíveis a água e ozônio, e estamos otimistas de que poderíamos detectar oxigênio molecular —a molécula de O2 que respiramos— assim como metano e dióxido de carbono.”

A descoberta original foi feita com a rede de telescópio­s MEarth, destinada a buscar planetas similares ao nosso em torno de anãs verme- lhas próximas.

São dois conjuntos de quatro telescópio­s de 40 cm de abertura, um instalado no Arizona, EUA, no hemisfério Norte, e outro no Chile, no hemisfério Sul. Com isso, os astrônomos têm acesso a 100% da abóbada celeste para buscas.

Os telescópio­s fazem descoberta­s medindo a redução de brilho causada pela passagem de um planeta à frente de sua estrela-mãe. A técnica é boa para fornecer o diâmetro planetário, mas em geral não permite estimar a massa.

No caso de LHS 1140b, os astrônomos solicitara­m uma bateria de observaçõe­s com o Harps, um espectrógr­afo instalado no telescópio de La Silla, também no Chile.

É um instrument­o que permite medir o bamboleio gravitacio­nal da estrela conforme ela é atraída suavemente, para lá e para cá, por planetas girando ao seu redor. O método é complement­ar e permite estimar a massa dos planetas, mas não seu diâmetro.

Após 144 medições precisas da chamada “velocidade radial” da estrela (termo técnico para o “bamboleio”), os cientistas estimaram que o planeta tem cerca de 6,6 vezes a massa da Terra. Pode parecer um número enorme, mas essa massa toda se distribui por um volume bem maior, porque o diâmetro do planeta é 40% maior que o do nosso.

Na prática, o mundo recém-descoberto é cerca de duas vezes mais denso que a Terra —provavelme­nte com um núcleo metálico mais avantajado. Sua gravidade, na superfície, deve ser três vezes mais intensa do que aqui.

Com essa massa e esse diâmetro, o planeta certamente é rochoso e está numa posição que, em tese, permitiria a presença de água em estado líquido na superfície. A LISTA CRESCE O planeta LHS 1140b se junta aos mundos do sistema Trappist-1 na lista de alvos preferenci­ais para o Telescópio Espacial James Webb, assim como para os telescópio­s de solo de próxima geração, que devem começar a operar na próxima década.

E tome nota, pois essa lista deve aumentar e muito nos próximos anos. A essa altura, já ficou claro que planetas rochosos na zona habitável em torno de anãs vermelhas próximas são comuns.

Entre o fim deste ano e meados de 2018, a Nasa também deve lançar ao espaço o Tess, novo satélite caçador de planetas destinado justamente a fazer a busca sistemátic­a de alvos similares ao LHS 1140b.

Não é impensável imaginar que, até 2020, os astrônomos terão centenas de planetas potencialm­ente habitáveis ao alcance do escrutínio com seus telescópio­s. Já uma viagem até o novo planeta deve demorar —ela levaria 700 mil anos com a tecnologia de hoje.

maior que a Terra Orbita: anã vermelha* Período orbital: 28,1 dias Distância da Terra: 22 anos-luz

maior que a Terra Orbita: anã vermelha* Período orbital: 39 dias Distância da Terra: 22 anos-luz

 ?? Associated Press ?? Concepção artística da estrela na constelaçã­o da Baleia e seu planeta, uma ‘Superterra’ rochosa e em zona habitável
Associated Press Concepção artística da estrela na constelaçã­o da Baleia e seu planeta, uma ‘Superterra’ rochosa e em zona habitável

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