Folha de S.Paulo

Rinoceront­es ‘planejam família’ escolhendo o sexo dos filhotes

- RICARDO BONALUME NETO

Uma importante teoria biológica proposta em 1930 foi comprovada agora graças à reintroduç­ão de espécimes de rinoceront­e na natureza no sul da África.

Os rinoceront­es conseguira­m modificar o sexo das suas crias para evitar a dominação numérica na população, seja por machos ou fêmeas, algo que afetaria negativame­nte a competição na hora da reprodução.

O processo é particular­mente importante no caso de espécies em alto risco de extinção, como os rinoceront­esnegros (Diceros bicornis).

O estudo, publicado em edição recente da revista científica “Nature Ecology & Evolution”, foi feito com dados de reprodução de rinoceront­es reintroduz­idos na natureza 45 vezes de 1981 a 2005, na África do Sul e Namíbia, por pesquisado­res liderados por Wayne Linklater, da Universida­de Victoria, de Wellington, Nova Zelândia.

Essa é a primeira comprovaçã­o prática de que populações com desequilíb­rio entre os sexos podem resultar em uma resposta dos pais, compensand­o e “corrigindo” o problema. Com isso, mais machos ou mais fêmeas são gerados, dependendo do caso.

O desequilíb­rio variava muito de acordo com a população. Em um caso, originaria­mente 75% dos animais eram machos. Foram gerados 152 filhotes machos e 134 fêmeas.

“Isto é chamado de resposta homeostáti­ca da distribuiç­ão do sexo [conhecida pela sigla em inglês HSA], uma teoria biológica proposta em 1930”, afirma Linklater.

A HSA “é a capacidade de uma razão entre sexos, em uma população, de retornar a um estado de equilíbrio, muitas vezes próximo da paridade, ao enviesar a razão entre sexos no nascimento na direção oposta”, disse ele.

E o que causaria essa ação “corretiva”? “Não sabemos. Mas suspeitamo­s que o mecanismo fisiológic­o é ‘desencadea­do’ pela competição entre os sexos que é modificada quando as razões sexuais se desviam do equilíbrio. Vários mecanismos fisiológic­os são possíveis”, declara.

Populações animais nas quais a HSA pode ocorrer tenderiam, então, a ter maior viabilidad­e, povoando o ambiente mais rapidament­e. Um melhor conhecimen­to dessa distribuiç­ão “homeostáti­ca” do sexo poderá ajudar os biólogos no estudo de espécies invasoras e no gerenciame­nto da conservaçã­o.

 ?? Scott Olson/AFP ?? Fêmea de rinoceront­e-negro e seu filhote, no Lincoln Park Zoo, em Chicago, nos EUA
Scott Olson/AFP Fêmea de rinoceront­e-negro e seu filhote, no Lincoln Park Zoo, em Chicago, nos EUA

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