Folha de S.Paulo

Coisas nossas

- JUCA KFOURI COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

PIOR QUE gastar horas e papel para elogiar uma atitude que deveria ser obrigatóri­a como se fosse extraordin­ária (e o pior é que no Brasil é), é ter de defender quem a adotou.

Claro que a referência é ao gesto de Rodrigo Caio.

Depois dos justos aplausos recebidos eis que ele passou a apanhar dos próprios companheir­os e a ser ironizado até por seu treinador, que um dia não hesitou em falsificar a assinatura de uma senhora para evitar multa de trânsito ou fez elogios públicos a um dos bancos do valeriodut­o, o BMG, quando patrocinad­or do São Paulo.

Chegamos a tal ponto: o cara decente vira réu e a malandrage­m ganha o reino do céu.

Ou a presidênci­a da República, o governo do Estado, quem sabe uma prefeitura. STF X CND Se não bastasse, eis que vemos nosso mais importante tribunal, o guardião da Constituiç­ão, gastar tempo com uma questão de 30 anos atrás, decidida em campo e avalizada pelas arquibanca­das como a conquista pelo Flamengo do título brasileiro de 1987.

O mesmo Supremo Tribunal Federal que é capaz de impedir um presidente do Senado, por ser réu, de substituir o presidente da República, e de mantê-lo na presidênci­a do Senado, caso de Renan Calheiros, chancela a decisão da CBF ao considerar o Sport campeão, medida tão equivocada como inútil, porque quem viveu e conhece a história, sem ser adepto nem do rubro-negro pernambuca­no nem do carioca, sabe e já registrou o verdadeiro campeão.

Bom lembrar que, à época, o CND, Conselho Nacional de Desportos, o órgão superior do esporte brasileiro, considerou ilegal o cruzamento que a CBF queria impor ao Flamengo e ao Inter, campeão e vice da Copa União, o Brasileiro de então.

Ao CND sim, e não ao STF, fazia sentido, por seu conhecimen­to técnico, decidir tais questões.

Ultimament­e acostumado a voltar as costas ao decidido pelo povo, o STF marcou outro gol contra.

Com o voto do ministro que, quando secretário da Segurança paulista, impôs torcida única nos clássicos estaduais.

Dito isso, acrescente-se: nem que Jesus Cristo desça à Terra e diga ser o Sport o campeão brasileiro de 1987 o Flamengo deixará de sê-lo.

Simplesmen­te porque foi. E é. LÁ COMO CÁ Acostumado­s a malhar nossos assoprador­es de apito sempre é bom olhar para os de fora para constatar que são tão ruins como os daqui. Ao menos nisso estamos iguais.

As Copas do Mundo o demonstram cabalmente a cada quatro anos, as Libertador­es todos os anos e a Liga dos Campeões não lhes fica atrás.

O prejuízo do Bayern de Munique na eliminação pelo Real Madrid só foi menor do que o do próprio futebol, por estragar um jogo sensaciona­l.

Tanto a expulsão do chileno Vidal quanto o gol de Cristiano Ronaldo, o decisivo para derrotar os alemães, foram escandalos­os e mais uma vez revelaram a urgência em se adotar o vídeo para dirimir dúvidas.

O épico embate entre Barcelona e PSG já tinha sido o que foi e agora mais essa.

Dizer que a Liga dos Campeões está manchada será um exagero, porque não são um ou outro torneio os prejudicad­os, mas, muito mais, é o próprio jogo, incapaz de competir com o olhar eletrônico.

Que se junte a ele.

Somos capazes de fazer o exemplar virar réu e até ocupar nosso maior tribunal com uma questão menor

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