Folha de S.Paulo

Laos se renova com restauraçã­o de templo sagrado de mil anos

Do alto de colina, Vat Phou atrai visitantes para região pouco conhecida do Sudeste Asiático

- EDWARD WONG

Local sagrado do antigo reino Khmer, ilhotas e praias fluviais são válvula de escape para turistas de metrópoles

Em meio às curvas da colina, no topo de uma escadaria de pedra ladeada de frangipani­s (jasmim-manga) ficam as edificaçõe­s do antigo templo khmer de Vat Phou.

Diante da cadeia de montanhas, e de costas para as águas do rio Mekong, estávamos em busca da câmara central. Daquele ângulo, ela ficava escondida. Mas outras partes do templo começavam a se revelar aos nossos olhos. Lá embaixo, víamos um guindaste erguendo um bloco destinado ao muro de uma das câmaras exteriores.

À nossa direita, alguns entalhador­es trabalhava­m em outros blocos, usando ferramenta­s manuais. Por suas mãos fluíam histórias da mitologia indiana, milênios de velhas narrativas de deuses, amor e guerra, que haviam feito a jornada até Java e de lá para o Camboja e o Laos.

Construído mais de mil anos atrás, no ponto mais elevado de um eixo que se estende do alto de uma cadeia montanhosa até o Mekong, Vat Phou é um dos mais sagrados templos dos reinos khmer desapareci­dos.

Os khmer dominavam uma ampla extensão do Sudeste Asiático, entre os séculos 9º e 15, e sua dedicação à arte e à arquitetur­a é representa­da da maneira mais visível nos famosos templos de Angkor Wat, no Camboja.

Patrimônio histórico da humanidade, Vat Phou, ou Wat Phu, é menos conhecido, e diferente de Angkor por seu clima mais intimista. ADEUS Para visitar o templo e o trecho do Mekong em que ele se localiza, minha mulher, Tini, nossa filha, Aria, de três anos, e eu nos hospedamos num novo hotel à beira-rio perto da cidade de Champasak. Era a etapa intermediá­ria de uma viagem de despedida da região.

Passei oito anos na China como correspond­ente do “New York Times”. Minha mulher tem origens vietnamita­s e trabalhou por sete anos para a Associated Press no Vietnã antes de se mudar para a China. Para muitos moradores estressado­s pela vida nas grandes cidades chinesas poluídas superlotad­as, as praias, os rios e as colinas tropicais do Sudeste Asiático oferecem uma válvula de escape muito necessária.

Mesmo que o Laos seja um Estado autoritári­o, continua a ser a terra do Mekong, com palmeiras ladeando o rio, botos nadando em meio às ilhotas fluviais e pescadores em pequenos botes jogando redes às águas.

O ritmo de vida é lento. Mas seria um engano imaginar a região como imutável.

A restauraçã­o de Vat Phou que testemunha­mos contraria a ideia de ruínas da antiguidad­e perdidas no eterno nevoeiro do rio. À MARGEM DO RIO No meio do nada, o River Resort consiste de construçõe­s luxuosas, de dois andares, ao longo da margem oeste do Mekong, com um quarto grande em casa piso. O hotel inclui duas piscinas à beira-rio. Nosso quarto oferecia vista para o rio. A parede e a porta voltadas ao rio são feitas de vidro. Foi um dos hotéis mais deslumbran­tes em que já nos hospedamos no Sudeste Asiático.

Queríamos passar um dia inteiro à beira do Mekong, mas a civilizaçã­o khmer nos aguardava. Nas montanhas que se elevavam a oeste de nós, oculto pela selva, Vat Phou estava à espera.

Na manhã seguinte, pegamos um táxi para o percurso de 15 minutos até o templo. Observando as colinas, podíamos perceber um pico que se destacava acima dos demais. Os construtor­es de Vat Phou haviam percebido a mesma coisa e proclamara­m que o lugar era um lingam [representa­ção] natural do [deus hinduísta] Shiva.

Percorrend­o a via central do templo, passamos por sete estátuas de nagas [divindades indianas em forma de serpente]. Caminhamos pela encosta da montanha por trás do templo. O local abrigava as ruínas de uma biblioteca, uma fonte sagrada e um santuário em uma caverna. Mas o ambiente natural é que nos enfeitiçav­a mais. No topo da colina, olhando serra abaixo na direção do Mekong a leste, eu via as flores brancas dos frangipani­s, como clarões na paisagem marrom. PAULO MIGLIACCI

 ?? Fotos Justin Mott/“New York Times” ?? Barcos nas margens do rio Mekong, na ilha Don Daeng
Fotos Justin Mott/“New York Times” Barcos nas margens do rio Mekong, na ilha Don Daeng
 ??  ?? Ruínas do templo khmer de Vat Phou, no sul do Laos
Ruínas do templo khmer de Vat Phou, no sul do Laos
 ??  ?? Alimentos à venda em rua da pequena vila de Pakse
Alimentos à venda em rua da pequena vila de Pakse

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