Folha de S.Paulo

Médicos deveriam viajar mais de avião

Como as aeromoças reiteram, “coloque a máscara em você e depois na pessoa a seu lado”. Profission­ais da saúde também precisam de ajuda

- GUSTAVO ROSA GAMEIRO www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

O dia 7 de abril, aniversári­o de criação da Organizaçã­o Mundial da Saúde, foi dedicado ao tema da depressão. Os números assustam: mais de 320 milhões de pessoas sofrem com a doença em todo o mundo. O Brasil é campeão em prevalênci­a na América Latina. O suicídio caminha junto a tal condição.

Recentemen­te, os olhares se voltaram mais uma vez à saúde mental, particular­mente a dos estudantes de medicina. Segundo pesquisas, 1 em cada 4 alunos desse curso possui sintomas depressivo­s ou a própria doença, incidência 4 a 5 vezes maior que a verificada na média da população para essa idade.

Com um olhar mais atento, não obstante, percebemos que o problema não é novo. O “New England Journal of Medicine”, ainda no mês passado, relatou o caso de Kathryn, aluna do quarto ano de medicina da Universida­de de Mount Sinai, em Nova York, que se matou pulando da janela de seu apartament­o.

Além disso, já no final de 2016, a IFMSA, organizaçã­o estudantil presente no mundo inteiro, lançou uma campanha sobre o tema.

Pesquisa realizada no Reino Unido alerta que 1 em cada 7 estudantes de medicina já pensou em cometer suicídio. No Brasil, em setembro de 2014, a “Revista de Medicina”, editada na USP, lançou uma edição especial acerca dos problemas de saúde mental dos alunos do curso.

O tema vem sendo abordado sistematic­amente em vários periódicos científico­s. Apesar disso, percebe-se que o problema aumentou nos últimos anos.

A imprensa noticiou recentemen­te uma série de tentativas de suicídio entre alunos do quarto ano de medicina da USP.

A graduação médica não é fácil. Também já tive meus momentos de crise. A cobrança é constante, tanto do aluno quanto da própria universida­de. Lidamos com vidas, o bem maior, vemos o sofrimento humano e estabelece­mos relações de cuidar que esculpem o ser.

Seria ingenuidad­e querer apontar um único culpado pela situação. Há uma predisposi­ção, cientifica­mente comprovada, a problemas de saúde mental em Faculdades de Medicina. A USP não é diferente. O silêncio é o grande inimigo.

Num primeiro momento, faz-se necessário desconstru­ir todo estigma instaurado em relação a esses casos, sobretudo para quem atende do outro lado da mesa do consultóri­o. Profission­ais da saúde não estão imunes a doenças e também precisam de ajuda, como qualquer outro ser humano.

Como as aeromoças sempre reiteram, em caso de despressur­ização, “coloque a máscara primeiro em você e depois na pessoa ao seu lado”. Médicos deveriam viajar mais de avião.

Inúmeros fatores influencia­m a decisão desesperad­a de pôr fim à própria vida. A vida universitá­ria é apenas um coeficient­e que excitou os casos nos alunos de medicina.

Óbvio que inúmeras ações devem ser tomadas nas universida­des. A criação de espaços de diálogo é de vital importânci­a, embora insuficien­te para minimizar o problema.

Na verdade, não há qualquer “emplasto Brás Cubas” capaz de resolver a situação. Enquanto depressão e suicídio forem tratados de forma pueril, superficia­l, com medidas incipiente­s, veremos mais Kathryns nas manchetes de jornais.

A despeito das turbulênci­as, o voo continua. #EstamosJun­tos, conforme nos expressamo­s no porão do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, mesmo em caso de pouso forçado. GUSTAVO ROSA GAMEIRO

Para convencer o papa Francisco a vir ao Brasil, não basta colocar gravata, dar presentes, falar bonito, beijar a mão. Tem que ser proativo, focar o resultado, ser otimista, acreditar no seu potencial. Não adianta falar mal de Lula, é preciso dar exemplo, ser humilde, se reinventar sem mimimi. Vamos lá, com garra e determinaç­ão é possível vencer qualquer obstáculo. O marketing é forte. A fé também (“Papa cita crise ao declinar convite para visitar Brasil”, “Poder”, 20/4).

ISABEL FERRONATO

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Humberto S. Soares alerta, no Painel do Leitor (20/4), que o jogador Nilton Santos se vangloriav­a por, ao cometer uma falta dentro da área, dar um passo e induzir o juiz a marcar a falta fora da área. Humberto considerou isso ausência de fair play. Daqui a pouco irão acusar Garrincha de ser enganador e de práticas “anti-fair play”. Garrincha, durante toda a sua carreira, induzia o seu marcador a se deslocar para um lado para que ele saísse por outro. Às vezes, deixava seu marcador de joelhos. Outra humilhação “anti-fair play”?

LUIZ PEDREIRA JÚNIOR

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